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BOA FILHA OU BOA MÃE?

A maternidade oferece um promissor convite ao teu crescimento pessoal e individual, já que deixas para trás papéis e funções antigas, abrindo-te a outras novas. Para que te possas harmonizar com o papel de ‘boa mãe’ terás de fazer o luto e soltar o de ‘boa filha’, uma vez que ambos tendem a não ser compatíveis entre si.

Quando passas a tua infância, e até mesmo parte da tua vida adulta, a tentar agradar e as satisfazer as expectativas dos teus pais, especialmente da tua mãe – fazendo todo o possível para não incomodá-la, não aborrecê-la –, traindo-te a ti para assegurares o papel de ‘boa filha’, é muito provável que a tua experiência de maternidade te divida num conflito de lealdades, e te faça deparar com uma encruzilhada em que tens de decidir a quem queres honrar. E dessa decisão resultará o exemplo que darás aos teus filhos/as. 

À medida que as crianças crescem, vão configurando o seu sistema nervoso e o seu sistema relacional de acordo com o nível de segurança emocional da mãe, e com a forma como a mãe se relaciona. Por muito consciente que seja a educação que providencies aos teus filhos/as, se estes/as te vêem a auto-trair para seres a ‘boa filha’ com a tua mãe, eles aprenderão a fazer o mesmo. 

A maternidade leva-te à experiência profunda do luto em relação ao teu papel como filha, e a confrontares aspetos de ti mesma que havias menorizado ou reprimido para satisfazer os demais. Contudo, esta auto-conciliação só é passível de se conquistar quando estiveres disposta a deixar para trás velhos padrões mentais e relacionais, de forma a construíres uma vida que reflita o teu verdadeiro valor. Isto permitir-te-á educar os teus filhos/as desde esse mesmo sentido de valor. 

O grande desafio de muitas mulheres é terem crescido a ver as mães a se auto-trairem, para não decepcionarem as suas próprias mães. 

Por isso, muitas filhas adultas que são mães vêem-se confrontadas com o desafio de se escolherem a si mesmas ou ao amor da mãe. Mas quando curas as tuas feridas emocionais e te responsabilizas pela tua ‘criança interior’, aprendes a suster a possibilidade de decepcionares a tua mãe ou os teus pais, para te honrares a ti mesma e ensinares os teus filhos/as a se honrarem a eles/as mesmos/as.

A educação consciente é bidirecional: não podes criar os teus filhos/as desde um sentido de valor se vives uma vida assente na auto-traição e no auto-abandono. Afinal: qual é o exemplo que queres dar aos teus filhos/as?

A mudança começa em ti. Não tens por que legar aos teus filhos/as uma herança de dor e de auto-traição. Se escolheres colocar o foco em ti mesma, e trabalhares para te instrumentalizares desde dentro, por forma a construíres uma vida desde a tua autenticidade e o teu sentido de valor, poderás dar aos teus filhos/as uma herança de sabedoria, mérito e amor. 

Se estás preparada para cultivar o teu sentido de valor e escolheres-te a ti primeiro, sem culpas nem arrependimentos, parabéns: chegaste à CresSendo. 

Sabe mais em consultório.
Aqui para ti.

Com estima,
Carlos Marinho 



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