Avançar para o conteúdo principal

AS FERIDAS DE INFÂNCIA NA PARENTALIDADE: DAR O QUE NÃO SE TEM... DÓI!

Pouco se fala de quão desafiador é educares uma criança quando tens feridas de infância profundas. Quando temos que 'encher o copo' de outras pessoas, neste caso pequenos seres de enorme fragilidade e carência amorosa, mas o teu reservatório está vazio, estarás a dar desde um lugar de sacrifício, gerando uma grande dívida emocional para contigo mesmo/a.
 
As crianças aprendem por neurónios-espelho: não se trata apenas de criá-las de forma consciente. A educação consciente é bidirecional. Não poderás ser um/a pai/mãe consciente com os teus filhos/as se não fores uma mãe consciente contigo mesmo/a primeiro.

Na minha prática clínica trabalho com filhos adultos que estão em processo de cura das suas feridas de infância, e não infrequentemente, ouço frases como:

"Tive uma mãe muito boa, mas que nunca se cuidava a ela mesma"
"Tive uma mãe carinhosa, mas deixava-se maltratar por outros"
"Tive uma mãe que fazia muitos sacrifícios, mas via como a minha avó a manipulava"
"Tive uma mãe muito devotada , mas via-a abandonar os seus sonhos"

Quando te escolhes a ti, ensinas os teus filhos/as a escolherem-se a eles mesmos/as. Quando te curas, ensinas os teus filhos/as a cuidarem-se a eles mesmos/as. Quando te tratas com cuidado, ensinas os teus filhos/as a serem compassivos com eles mesmos/as. És uma boa mãe para ti diante dos teus filhos/as?

Para poderes criar futuros adultos maduros e conscientes, é necessário que sejas um/a adulto/a maduro/a e consciente primeiro, e que te responsabilizes por todas estas dívidas emocionais que tenham ficado pendentes desde a tua infância.´

Um pai ou mãe profundamente ferido/a na relação com o seu próprio/a pai ou mãe, projetará nos filhos/as as suas carências emocionais, esperando que estes/as, na sua inocência, preencham os vazios da infância. Os teus filhos/as são o reflexo de quem realmente és. Se te negares a encarar esse espelho, não poderás mudar ou curar o que é necessário.

A parentalidade está a pedir não só que eduques os teus filhos/as, mas também que te dês a oportunidade de te tornares a mãe e o pai que a criança que vive dentro de ti necessita. Para que desde esse lugar de liberdade emocional possas ser para os teus filhos/as o pai/mãe que eles precisam.

Se estás preparado/a para cultivar a tua valorização pessoal e sarar as feridas do passado, parabéns: chegaste à CresSendo.

Sabe mais em consultório.
Aqui para ti.

Com estima,
Carlos Marinho

Comentários

Mensagens populares deste blogue

TUDO SOBRE FERIDAS EMOCIONAIS DE INFÂNCIA

FERIDAS EMOCIONAIS DA INFÂNCIA: O QUE SÃO E COMO NOS IMPACTAM?  A Patrícia está sempre a comparar-se aos outros. Acha-se inútil e desinteressante. Tem pouca autoconfiança e uma muito baixa autoestima, desde adolescente. Vive refém do medo de ser abandonada, apega-se em demasia aos amigos e, principalmente, ao seu parceiro. A experiência de ciúmes é constante. Assume que qualquer outra mulher é muito mais bonita e mais cativante do que ela. Não descansa enquanto não souber o que o seu parceiro faz, controla-lhe o telemóvel, persegue-lhe as colegas de trabalho, e acompanha-o em todos os movimentos. " Faço isso para que ele não me troque por outra pessoa " justifica. Ansiedade, angústia, medo e desconfiança tomam conta da sua vida há muito tempo. Mas estas emoções são apenas a ponta do iceberg, e o sintoma de um problema maior, oculto abaixo da linha de água - ali, onde em terapia encontramos as suas  feridas emocionais . [Quando cais e te magoas, podes imediatamente ver a ferid...

O DESAFIO DA (RE)CONEXÃO COM O 'SELF' [MANUAL DE BOLSO - Versão 2024]

... VAZIO? DESÂNIMO? SOLIDÃO? FALTA DE FOCO? ANGÚSTIA? ... ´ Muitas destas queixas são queixas típicas do estado de  crise da subjetividade pessoal. E o que quer isto dizer? Bem, comumente, este estado de crise decorre da falta de investimento na nossa " vida interior " . Quando esta falta de investimento leva ao afastamento e eventual  desconexão com o nosso 'Self' , debilitando-o, é gerado intenso mal-estar. Neste caso, a solução está na libertação do 'Eu reprimido' , ou seja, no processo de individuação   e  emancipação pessoal . Por outro lado, pessoas que estão nos estágios iniciais do processo de emancipação pessoal , e que percebem quão isoladas estão em relação à maioria, poderão também experimentar mal-estar sob a forma destas queixas: acontece que o que faz mover o mundo não as faz mover mais. Aos perceberem de forma mais lúcida a crise da subjetividade atual, sentem-se alienadas da cultura ao seu redor. Neste caso, a solução está na resistência às...

ENTENDER PARA SUPERAR: OS DESAFIOS DO NARCISISMO PATOLÓGICO

SOMOS TODOS/AS NARCISISTAS? Sim!  Comecemos por dizer que o que caracteriza o narcisismo é o  investimento da libido na nossa própria imagem .  Todos/as nós possuímos uma energia vital que pode ser investida tanto nos outros, como na nossa própria imagem - a essa 'energia' chamamos de " libido ". Com efeito, é impossível que pelo menos uma parcela da nossa energia vital não seja investida na nossa própria imagem , por isso dizemos que o narcisismo é uma condição básica da estrutura da subjetividade humana ,  transversal a todos os seres humanos .  Para entendermos as "complicações narcísicas" que podem afetar o nosso comportamento, nomeadamente o que consideramos " narcisismo patológico (ou perverso) ", devemos começar pelo início da vida, e entender a formação do narcisismo desde a sua raiz ...  A VIDA COMEÇA NO PARAÍSO (ou SOBRE O NARCISISMO PRIMÁRIO ): No início da vida, o bebé não percebe ainda a realidade externa , não está ainda capaz de re...