Avançar para o conteúdo principal

VINCULAÇÃO: ANSIOSA, EVITANTE E DESORGANIZADA

A forma como nos relacionamos afetivamente em adulto não nasce do acaso. Resulta, em grande parte, das experiências precoces que tivemos com as nossas figuras de cuidado - geralmente pais ou cuidadores significativos. A partir dessas vivências, aprendemos o que esperar dos outros, como regular as emoções e como equilibrar a proximidade e a autonomia nas relações.

Este conjunto de aprendizados, conscientes e inconscientes, forma aquilo a que a psicologia chama padrões de vinculação (ou estilos de apego).

Entre os principais, destacam-se três que tendem a causar maior sofrimento relacional: vinculação evitante, vinculação ansiosa e vinculação desorganizada. Compreendê-los é o primeiro passo para criar relações mais seguras, empáticas e autênticas.


VINCULAÇÃO EVITANTE:

- Associada a uma real ou percebida ausência das figuras cuidadoras, durante a infância, causando uma disposição para a independência emocional;
- Preferem ocultar o que sentem, e fogem às conversas incómodas;
- Tende a recolher-se e a não pedir ajuda a ninguém no caso de enfrentar problemas/dificuldades ("Eu consigo tudo sozinho/a...");
- Sentem-se pouco valorizados/as, por isso é-lhes difícil entrar e comprometer-se numa relação;
- Evitam as relações amorosas por acreditarem que serão deixados/as (temem confiar e serem rejeitados/as);
- Amam com a mesma intensidade que os demais, apenas não sabem demonstrá-lo do mesmo modo;
- Necessitam de muito espaço individual para não se sentirem 'sufocados/as';
- Sentem-se incomodados/as com muitas demonstrações de afeto;

DICAS PARA LIDAR COM PESSOAS DE VINCULAÇÃO EVITANTE:
- Suspenda qualquer forma de críticas, censura ou julgamento; 
- Não os/as pressione em relação à sua independência;
- Deixe que tenham o seu espaço e que se afastem quando assim necessitarem. 

DICAS PARA PESSOAS DE VINCULAÇÃO EVITANTE:
- Perceber que se pode confiar nos outros;
- Investir relacionalmente em pessoas emocionalmente estáveis;
- Mudar o registo de auto-suficiência para um de apoio mútuo;
- Registe diariamente a forma como a sua parceria o/a faz sentir-se bem.

VINCULAÇÃO ANSIOSA:

- Associada à experiência de um percebido 'abandono ocasional' durante a infância (as figuras educativas ora estavam ora não estavam), gerando forte ansiedade de separação;
- Caracterizam-se por terem muito medo ao abandono e à solidão;
- Percebem as mudanças de ânimo ou a frieza dos outros como ameaças ("se não responde é porque já não me ama", "não disse que me ama, por isso vai deixar-me");
- Sentem necessidade de reafirmar constantemente os sentimentos da sua parceria ("ainda me amas?", "ainda gostas de mim?"), gerando stress e angústia, a ponto de comprometer os seus limites e necessidades;
- Tendem a pôr os outros em primeiro lugar e a satisfazer as suas necessidades para que os outros não o/a deixem;
- Necessitam de interação constante e de muitas provas de afeto para se sentirem seguros/as;
- Os outros tendem a vê-las como pessoas muito intensas ou 'meladas';
- Quando percebem que as suas conexões não são iguais sentem que não estão a ser amadas o suficiente; 
- Experienciam muitas inseguranças e ciúmes;
- Não sabem como gerir adequadamente a sua raiva, e são impulsivos/as a tomar decisões;
- Frustram-se porque não sabem como expressar as suas emoções, o que as leva ao overthinking

DICAS PARA LIDAR COM PESSOAS DE VINCULAÇÃO ANSIOSA:
- Avisem quando puderem não estar disponíveis ("Hoje preciso de tempo para mim, amanhã estamos juntos...");
- Reafirmem os seus sentimentos durante as discussões ("Sentes-te bem? Necessitas de algo?").

DICAS PARA PESSOAS DE VINCULAÇÃO ANSIOSA:
- Não sobre-pense as situações;
- Seja direto/a com as suas necessidades ("Gosto de/quando...", "Espero...", "Quero...");
- Aceite a sua necessidade de carinho;
- Não mude a sua forma de amar: procure alguém que lhe seja recíproco. 

VINCULAÇÃO DESORGANIZADA:

As pessoas com uma VINCULAÇÃO DESORGANIZADA encontravam segurança na mesma figura que era fonte de terror. Ou seja, ali onde me protejo estou também em perigo; onde procuro cuidado também tenho de proteger-me. Procuro segurança, mas a segurança é perigosa. Nesta sequência, receber amor e cuidado acaba por ficar estritamente associado ao estar-se em perigo e sofrer. Desenvolver este tipo de vinculação predispõe-nos a procurar amor deste mesmo modo.
E por isso mesmo, a permanecer em relações hierárquicas ou de abuso. O que, por sua vez, minam ainda mais a nossa autoestima e nos levam a enraizar a crença de que para amar é preciso sofrer.
É então necessário sofrermos para que cuidem de nós. Ou, o que é ainda mais perigoso: necessitamos de sofrer para nos autocuidarmos. Que poderás dar-te a ti mesmo/a para descobrires que O AMOR NÃO DÓI? 

Saiba mais em consultório.
Aqui para si.

Com estima,
Carlos Marinho

Comentários

Mensagens populares deste blogue

TUDO SOBRE FERIDAS EMOCIONAIS DE INFÂNCIA

FERIDAS EMOCIONAIS DA INFÂNCIA: O QUE SÃO E COMO NOS IMPACTAM?  A Patrícia está sempre a comparar-se aos outros. Acha-se inútil e desinteressante. Tem pouca autoconfiança e uma muito baixa autoestima, desde adolescente. Vive refém do medo de ser abandonada, apega-se em demasia aos amigos e, principalmente, ao seu parceiro. A experiência de ciúmes é constante. Assume que qualquer outra mulher é muito mais bonita e mais cativante do que ela. Não descansa enquanto não souber o que o seu parceiro faz, controla-lhe o telemóvel, persegue-lhe as colegas de trabalho, e acompanha-o em todos os movimentos. " Faço isso para que ele não me troque por outra pessoa " justifica. Ansiedade, angústia, medo e desconfiança tomam conta da sua vida há muito tempo. Mas estas emoções são apenas a ponta do iceberg, e o sintoma de um problema maior, oculto abaixo da linha de água - ali, onde em terapia encontramos as suas  feridas emocionais . [Quando cais e te magoas, podes imediatamente ver a ferid...

OS CORPOS DEVEM ESTAR LOUCOS (DA RECONEXÃO COM A NOSSA 'CRIANÇA INTERIOR')

INTRO O consultório clínico é, cada vez mais, uma estufa de queixas dirigidas ao medo que a ordem social vem tendo do CORPO. É da ordem social desconfiar de tudo quanto nos aproxime da animalidade, do ingovernável, do vulnerabilizante, e da paixão sensorial. Se hoje somos muito 'cógito pensante' e muito pouco 'corpo' , é - pelo menos parcialmente - porque a sociedade nos quer 'máquinas' de produção. Entre as pressas e atropelos das tantas solicitações e responsabilidades externas (que vão desde o trabalho ao consumo desmedido das redes sociais), o tempo deve ser rentabilizado a favor da aquisição de aptidões e competências que apurem o nosso valor mercadológico. Sobra-nos pouco tempo (bolsas de oxigénio) para nós mesmos/as (se é que algum), e menos disposição para compreendermos e cuidarmos da nossa interioridade. Nessa interioridade, as emoções são percebidas como obstáculos à produtividade, levando a que sejam reprimidas e controladas. Quando uma pessoa 's...