Avançar para o conteúdo principal

A MENINA QUE NÃO ERA SUFICIENTE

Por detrás de “uma mulher viciada em fazer muito para mostrar o seu valor” encontra-se uma criança ferida que só se sentiu vista quando era 'a melhor' ou sobressaía em algo.

Se hoje, como mulher adulta…

...sentes dificuldades em parar e simplesmente não fazer nada;
...não consegues conectar com o relaxamento e o ócio;
...te centras no reconhecimento laboral, mesmo a expensas da tua saúde, das tuas relações e/ou do teu bem-estar emocional;
...és perfeccionista, e exigente contigo mesma;
...te incomoda a calma e a quietude;
...sentes medo de não fazeres o suficiente;
...te custa descansar e não ser ‘produtiva’, culpando-te por não estares a mostrar serviço;
...te comparas constantemente aos outros, e aos resultados que eles atingem...

…então, dentro de ti, há uma criança ferida que aprendeu que para receber amor e aprovação das suas figuras cuidadoras (ex.: pais) deve esforçar-se e sobressair, entendendo que não há espaço para o brincar, o descanso, o relaxamento e o prazer. Alimentando uma profunda sensação de vazio interior e uma desconexão com o seu próprio mérito. 

Quando fundes o teu sentido de valor e/ou carácter ao sobressaíres ou ‘seres a melhor’ (estudante, desportista, trabalhadora, a mais disciplinada), é muito provável que na tua vida adulta te dês pouco espaço para ser e para te conectares com a tua criança interior.

Os pais emocionalmente imaturos tendem a dar mais atenção aos resultados obtidos pelos filhos do que ao esforço que eles incorrem, levando consequentemente a que as crianças, pequenas e vulneráveis, interpretem que o seu valor está afeto ao reconhecimento externo.

Se no teu processo de crescimento te identificaste mais com o pai – seja porque sentiste maior carência, ou um envolvimento excesso dele -, é muito provável que estejas mais focada na tua energia masculina do que na feminina, centrando-te apenas no fazer e no ativar, tendo como consequência a desnutrição do teu feminino (ligado à amabilidade, à compaixão e à paixão).

Curar esta criança que acreditou que para ser amada e reconhecida deveria esforçar-se, implica agora começares a renovar a permissão que não tiveste em infância para brincar, descansar, relaxar e conectar-te. Para que assim possas integrar que hoje, como mulher, és mais do que suficiente.

Curares as tuas feridas de infância implica soltares os papéis que te colocam numa posição de negligência para contigo mesma, para que assim possas começar a saldar todas as dívidas que tens com a tua criança interior e, ao mesmo tempo, cultivares relações desde o mérito e o valor pessoal, e não desde a ferida da carência e do auto-sacrifício. 

Se estás pronta para descobrir como conectar com o teu sentido de mérito e suficiência, parabéns: chegaste à CresSendo.

Sabe mais em consultório.
Aqui para ti,

Com estima,
Carlos Marinho

Comentários

Mensagens populares deste blogue

TUDO SOBRE FERIDAS EMOCIONAIS DE INFÂNCIA

FERIDAS EMOCIONAIS DA INFÂNCIA: O QUE SÃO E COMO NOS IMPACTAM?  A Patrícia está sempre a comparar-se aos outros. Acha-se inútil e desinteressante. Tem pouca autoconfiança e uma muito baixa autoestima, desde adolescente. Vive refém do medo de ser abandonada, apega-se em demasia aos amigos e, principalmente, ao seu parceiro. A experiência de ciúmes é constante. Assume que qualquer outra mulher é muito mais bonita e mais cativante do que ela. Não descansa enquanto não souber o que o seu parceiro faz, controla-lhe o telemóvel, persegue-lhe as colegas de trabalho, e acompanha-o em todos os movimentos. " Faço isso para que ele não me troque por outra pessoa " justifica. Ansiedade, angústia, medo e desconfiança tomam conta da sua vida há muito tempo. Mas estas emoções são apenas a ponta do iceberg, e o sintoma de um problema maior, oculto abaixo da linha de água - ali, onde em terapia encontramos as suas  feridas emocionais . [Quando cais e te magoas, podes imediatamente ver a ferid...

VINCULAÇÃO: ANSIOSA, EVITANTE E DESORGANIZADA

A forma como nos relacionamos afetivamente em adulto não nasce do acaso. Resulta, em grande parte, das experiências precoces que tivemos com as nossas figuras de cuidado - geralmente pais ou cuidadores significativos. A partir dessas vivências, aprendemos o que esperar dos outros, como regular as emoções e como equilibrar a proximidade e a autonomia nas relações. Este conjunto de aprendizados, conscientes e inconscientes, forma aquilo a que a psicologia chama padrões de vinculação (ou estilos de apego). Entre os principais, destacam-se três que tendem a causar maior sofrimento relacional: vinculação evitante, vinculação ansiosa e vinculação desorganizada. Compreendê-los é o primeiro passo para criar relações mais seguras, empáticas e autênticas. VINCULAÇÃO EVITANTE: - Associada a uma real ou percebida ausência das figuras cuidadoras, durante a infância, causando uma disposição para a independência emocional; - Preferem ocultar o que sentem, e fogem às conversas incómodas; - Tende a rec...

OS CORPOS DEVEM ESTAR LOUCOS (DA RECONEXÃO COM A NOSSA 'CRIANÇA INTERIOR')

INTRO O consultório clínico é, cada vez mais, uma estufa de queixas dirigidas ao medo que a ordem social vem tendo do CORPO. É da ordem social desconfiar de tudo quanto nos aproxime da animalidade, do ingovernável, do vulnerabilizante, e da paixão sensorial. Se hoje somos muito 'cógito pensante' e muito pouco 'corpo' , é - pelo menos parcialmente - porque a sociedade nos quer 'máquinas' de produção. Entre as pressas e atropelos das tantas solicitações e responsabilidades externas (que vão desde o trabalho ao consumo desmedido das redes sociais), o tempo deve ser rentabilizado a favor da aquisição de aptidões e competências que apurem o nosso valor mercadológico. Sobra-nos pouco tempo (bolsas de oxigénio) para nós mesmos/as (se é que algum), e menos disposição para compreendermos e cuidarmos da nossa interioridade. Nessa interioridade, as emoções são percebidas como obstáculos à produtividade, levando a que sejam reprimidas e controladas. Quando uma pessoa 's...