Avançar para o conteúdo principal

TUDO EM FAMÍLIA: "OS POLIDRAMAS DA FAMÍLIA DISFUNCIONAL - DIRETORES, SÁBIOS E BODES EXPIATÓRIOS"

Toda a FAMÍLIA DISFUNCIONAL tem PAIS MENTALMENTE PERTURBADOS. Um deles é o “PAI/MÃE-CHEFE MENTALMENTE PERTURBADO/A”, e o outro, se houver outro, é o “FACILITADOR DO PAI/MÃE-CHEFE PERTURBADO/A”. De forma mais ou menos consciente, estes pais tornam-se DIRETORES DE CASTING e criam os papéis que cada filho irá desempenhar.

Um/a filho/a, normalmente o FILHO MAIS VELHO, desempenha o PAPEL DE SÁBIO. Os outros desempenham papéis variados que compartilham um denominador comum: todos eles têm UM LUGAR ACEITE na família. O último papel é o de BODE EXPIATÓRIO. Este deve assumir a grande parte da raiva da família e é visto como não pertencendo verdadeiramente à família e é, portanto, um REJEITADO.

Os irmãos recebem PERMISSÃO DOS PAIS para tratar o bode expiatório da maneira que lhes apetecer. Os bodes expiatórios são DEMONIZADOS PELOS PAIS e, portanto, merecem qualquer tipo de tratamento. Os irmãos ficam contentes por terem alguém que lhes permita SENTIREM-SE SUPERIORES e sobre quem podem descarregar a raiva com que os seus pais, inconscientemente, os contaminaram.

Numa família disfuncional NINGUÉM SAI ILESO, mas o bode expiatório é O MAIS AFETADO. É difícil sobreviver a uma família disfuncional porque os pais fazem “LAVAGENS CEREBRAIS” aos filhos, o que leva a considerá-los como bons pais. Estes, geralmente, treinam os filhos mais velhos para os ELOGIAR E DEFENDER caso algum dos irmãos expresse ALGUMA CRÍTICA.

Cada membro da família tem um papel que é REPETIDAMENTE REPRESENTADO, de modo que, quando um filho chega à IDADE ADULTA, os seus hábitos, atitudes e sentimentos parecem NORMAIS. Assim, parece completamente normal o filho mais velho GOZAR, MAGOAR, INSULTAR e, em geral, tratar o bode expiatório COMO UM SER INFERIOR. Uma e outra vez, é dito ao filho aquilo que ele é e em que acredita.

Depois de algum tempo, o/a filho/a considera que é realmente a pessoa que foi MOLDADO PARA SER, e já não se preocupa em tentar encontrar o seu VERDADEIRO EU. Isto é particularmente verdade para os membros da família que têm os melhores papéis, como aquele que interpreta o sábio.

O bode expiatório é o que tem mais probabilidades de DESPERTAR DO FEITIÇO, porque o seu papel é o mais repugnante. No entanto, se o bode expiatório, por exemplo, exclama para um qualquer membro da família, ou especialmente para os pais – “Isto é uma loucura! Esta família é louca! “-, ele SERÁ SEVERAMENTE PUNIDO. Ninguém deve lançar quaisquer DÚVIDAS SOBRE A MITOLOGIA FAMILIAR.

É por isso que as famílias muitas vezes se sentem AMEAÇADAS quando um dos seus membros COMEÇA A FAZER TERAPIA. Temem que as mitologias familiares, tão bem ensaiadas durante tantos anos, possam cair como peças de dominó, uma após a outra.

O medo é infundado. Mesmo quando o bode expiatório ou outros irmãos com papéis menores na família ACORDAM E COMEÇAM A ENTENDER como são as coisas, SÃO TRATADOS COMO SE FOSSEM OS LOUCOS e às vezes são até internados em hospitais psiquiátricos, a fim de acalmá-los e de os trazer “de volta à sanidade” (isto é, de volta a um lugar de lealdade à mitologia da família). Na verdade, DESPERTAR E INDIVIDUAR-SE DAS FAMÍLIAS DISFUNCIONAIS É UMA LONGA E ÁRDUA PROVAÇÃO.

A fim de encontrar a sanidade depois de ter sido sujeito a uma “lavagem cerebral” durante anos, deve-se antes de tudo TER AJUDA – quer de amigos que passaram pelo mesmo, quer de um profissional que ajude a lidar com os SENTIMENTOS DE TRAIÇÃO À FAMÍLIA. Os bodes expiatórios destas famílias viram os seus EGOS ESMAGADOS e é extremamente DIFÍCIL PARA ELES AFIRMAREM-SE OU PENSAREM POR SI MESMOS.

A família vai OSTRACIZAR, GOZAR, DESPREZAR, REBAIXAR E CASTIGAR de todas as formas aqueles QUE SE SEPARAM, e fazer com que se sintam traidores. Eles farão tudo e mais alguma coisa PARA EVITAR UMA RUTURA, pois isso AMEAÇA A SANTIDADE E A IDENTIDADE DA FAMÍLIA. A família disfuncional jamais vai parar ou deixar em paz aqueles que despertam.

Aqueles que acordam em muitos casos precisarão de cortar completamente com a família disfuncional, e mesmo assim a família tentará de todas as formas INTERFERIR NESSE ROMPIMENTO. Os membros que “acordarem” precisarão de LUTAR. A melhor maneira de ripostar é NÃO REAGIR MAIS À MANIPULAÇÃO, À DEPRECIAÇÃO E DEMONIZAÇÃO encetada pela família disfuncional. A melhor vingança é, como dizem, VIVER UMA VIDA BOA.

O bode expiatório pode, na vida adulta, deixar de desempenhar o papel que lhe foi designado, mas não será fácil. Cada nova situação na sua vida DESPERTARÁ A RESPOSTA DO BODE EXPIATÓRIO que lhe foi condicionada durante toda a infância. Eventualmente, o bode expiatório pode descobrir quem realmente é, e pode começar a viver uma vida que reflita AS SUAS PRÓPRIAS ASPIRAÇÕES ao invés das FRUSTRAÇÕES DOS SEUS PAIS.

Com estima,
Carlos Marinho

Comentários

Mensagens populares deste blogue

TUDO SOBRE FERIDAS EMOCIONAIS DE INFÂNCIA

FERIDAS EMOCIONAIS DA INFÂNCIA: O QUE SÃO E COMO NOS IMPACTAM?  A Patrícia está sempre a comparar-se aos outros. Acha-se inútil e desinteressante. Tem pouca autoconfiança e uma muito baixa autoestima, desde adolescente. Vive refém do medo de ser abandonada, apega-se em demasia aos amigos e, principalmente, ao seu parceiro. A experiência de ciúmes é constante. Assume que qualquer outra mulher é muito mais bonita e mais cativante do que ela. Não descansa enquanto não souber o que o seu parceiro faz, controla-lhe o telemóvel, persegue-lhe as colegas de trabalho, e acompanha-o em todos os movimentos. " Faço isso para que ele não me troque por outra pessoa " justifica. Ansiedade, angústia, medo e desconfiança tomam conta da sua vida há muito tempo. Mas estas emoções são apenas a ponta do iceberg, e o sintoma de um problema maior, oculto abaixo da linha de água - ali, onde em terapia encontramos as suas  feridas emocionais . [Quando cais e te magoas, podes imediatamente ver a ferid...

O DESAFIO DA (RE)CONEXÃO COM O 'SELF' [MANUAL DE BOLSO - Versão 2024]

... VAZIO? DESÂNIMO? SOLIDÃO? FALTA DE FOCO? ANGÚSTIA? ... ´ Muitas destas queixas são queixas típicas do estado de  crise da subjetividade pessoal. E o que quer isto dizer? Bem, comumente, este estado de crise decorre da falta de investimento na nossa " vida interior " . Quando esta falta de investimento leva ao afastamento e eventual  desconexão com o nosso 'Self' , debilitando-o, é gerado intenso mal-estar. Neste caso, a solução está na libertação do 'Eu reprimido' , ou seja, no processo de individuação   e  emancipação pessoal . Por outro lado, pessoas que estão nos estágios iniciais do processo de emancipação pessoal , e que percebem quão isoladas estão em relação à maioria, poderão também experimentar mal-estar sob a forma destas queixas: acontece que o que faz mover o mundo não as faz mover mais. Aos perceberem de forma mais lúcida a crise da subjetividade atual, sentem-se alienadas da cultura ao seu redor. Neste caso, a solução está na resistência às...

ENTENDER PARA SUPERAR: OS DESAFIOS DO NARCISISMO PATOLÓGICO

SOMOS TODOS/AS NARCISISTAS? Sim!  Comecemos por dizer que o que caracteriza o narcisismo é o  investimento da libido na nossa própria imagem .  Todos/as nós possuímos uma energia vital que pode ser investida tanto nos outros, como na nossa própria imagem - a essa 'energia' chamamos de " libido ". Com efeito, é impossível que pelo menos uma parcela da nossa energia vital não seja investida na nossa própria imagem , por isso dizemos que o narcisismo é uma condição básica da estrutura da subjetividade humana ,  transversal a todos os seres humanos .  Para entendermos as "complicações narcísicas" que podem afetar o nosso comportamento, nomeadamente o que consideramos " narcisismo patológico (ou perverso) ", devemos começar pelo início da vida, e entender a formação do narcisismo desde a sua raiz ...  A VIDA COMEÇA NO PARAÍSO (ou SOBRE O NARCISISMO PRIMÁRIO ): No início da vida, o bebé não percebe ainda a realidade externa , não está ainda capaz de re...