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"FEAR OF MISSING OUT" (FOMO) | EVERYTHING, EVERYWHERE, ALL AT ONCE

Talvez tenha amigos a viajar pelo mundo, colegas de trabalho a investir na carreira ou amigos do Facebook que não param de partilhar fotografias do seu último concerto. Enquanto isso, está a trabalhar ou sozinho/a em casa, a olhar para o telemóvel e a DESEJAR ESTAR A FAZER TUDO AQUILO. Só que não está, e de repente isso deixa-o/a ansioso/a. O QUE É QUE ESTARÁ A PERDER? ESTARÁ ONDE REALMENTE DEVE ESTAR? SERÁ QUE É VERDADEIRAMENTE FELIZ?

O FOMO (Fear of Missing Out), em português "medo de ficar de fora", refere-se à PERCEÇÃO ANSIOSA de que os outros se estão a divertir, a viver uma vida melhor ou envolvidos em experiências MAIS EXCITANTES DO QUE AS NOSSAS – de que por comparação poderíamos estar a fazer algo melhor neste momento. Pode aplicar-se a qualquer coisa, desde uma festa numa sexta-feira à noite ou a uma promoção no trabalho, mas envolve sempre uma sensação de desamparo, de que está A PERDER ALGO IMPORTANTE.

Embora, presumivelmente, exista há bastante tempo, este fenómeno começou a ser estudado cientificamente mais recentemente, começando com uma investigação em 1996 conduzida por Dan Herman. Desde a chegada das redes sociais, o FOMO tornou-se mais óbvio e tem vindo a ser estudado com mais frequência. É essa ansiedade que faz com que se esteja sempre a ATUALIZAR O FEED DAS REDES SOCIAIS, como o Instagram e o Facebook, para saber o que é que os outros estão a fazer. Não se quer SENTIR EXCLUÍDO/A. As redes sociais oferecem um cenário em que dá por si a comparar a sua vida normal com os destaques da vida de outras pessoas. Portanto, o seu sentido de “normal” fica distorcido e parece sempre pior do que os delas. Depois vem a questão: será que sou feliz?

ESCALA DE FOMO:

Os NÍVEIS de FOMO podem VARIAR DE PESSOA PARA PESSOA. Já é possível fazer o teste: o psicólogo Andrew Przybylski, da Universidade de Essex, no Reino Unido, desenvolveu uma ESCALA DE DEZ PERGUNTAS QUE DETERMINAM O QUÃO ALTO É O SEU MEDO DE FICAR DE FORA: só tem de responder classificando-as de 1 a 5. No fim, basta somar todas as classificações e perceber em que nível está.

(1) Temo que outros tenham experiências mais recompensadoras do que eu.

(2) Temo que os meus amigos tenham experiências mais recompensadoras do que eu.

(3) Fico ansioso quando descubro que os meus amigos se estão a divertir sem mim ou que não me convidaram.

(4) Fico ansioso quando não sei o que meus amigos estão a fazer.

(5) É importante que eu me sinta integrada no grupo de amigos e entenda as brincadeiras deles.

(6) Costumo questionar-me se perco muito tempo a ver o que está a acontecer na vida dos meus amigos, nas redes sociais.

(7) Incomoda-me quando perco uma oportunidade de sair ou de me encontrar com os meus amigos.

(8) Quando me divirto, é importante partilhar todos os detalhes nas redes sociais.

(9) Incomoda-me quando falto a uma reunião planeada com os meus amigos.

(10) Quando vou de férias continuo a acompanhar o que os meus amigos estão a fazer, para ficar a par de tudo o que está a acontecer.

Se pontuar de 0 a 14 provavelmente não sofre deste fenómeno. Entre 15 a 22 está no RISCO DE vir a sofrer. Dos 23 aos 29 sofre de FOMO MÉDIO. Se pontuar de 30 para cima, o seu nível de FOMO é SEVERO.

SOBRE O FOMO:

Um artigo publicado em Computers and Human Behavior mencionou vários aspetos associados ao FOMO. Verificou-se que o MEDO DE ESTAR A PERDER ALGO estava associado a uma MENOR PROCURA DE SATISFAZER AS NECESSIDADES PESSOAIS e a uma MENOR SATISFAÇÃO COM A VIDA em geral. Assim, de acordo com vários estudos, o FOMO e o uso das redes sociais podem contribuir para um CICLO DE AUTOPERPETUAÇÃO NEGATIVO.

Além do aumento do sentimento de infelicidade, o medo de perder algo pode levar a um MAIOR ENVOLVIMENTO EM COMPORTAMENTOS QUE PODEM SER PREJUDICIAIS para a vida da própria pessoa. Por exemplo, o mesmo estudo revelou que o fenómeno estava relacionado com a condução distraída, muitas vezes fatal.

A ARTE DA RENÚNCIA:

A verdade é que NÃO SE PODE ESTAR EM TODO O LADO AO MESMO TEMPO, nem se pode fazer tudo ao mesmo tempo. Há que fazer escolhas. A arte de viver é a arte da renúncia, é preciso renunciar a umas coisas para ter outras. Aqui a renúncia tem o peso de perder-se qualquer coisa.

E nem todos conseguem ESCOLHER O QUE PERDER, acabando por não ficar satisfeitos com nenhuma decisão. Eu tenho de escolher a que festa vou mas, se fico a pensar que estou nesta festa e gostava de estar na outra, na verdade, acabo por não estar em nenhuma e dificilmente consigo tirar alguma satisfação. Mas, se estamos com medo do que estamos a perder, dificilmente ganhamos alguma coisa.

O fenómeno, que já existe há vários anos, ganhou MAIORES PROPORÇÕES por causa das REDES SOCIAIS — tudo porque agora se consegue estar ligado/a a toda a gente em todos os momentos.

O FOMO é sentido independentemente da fonte de onde se obtém a informação do evento ou atividade social. Seja por um amigo ou nas redes sociais, o efeito é o mesmo. No entanto, com as redes sociais é natural que a ansiedade possa ser ainda maior: não há forma de não ver.

O próprio Facebook faz questão de lembrar que os meus amigos têm um evento, e os eventos que vão acontecer perto de mim. A SATISFAÇÃO DAS PESSOAS começou a ter por base o número de eventos, o número de amigos, o número de festas, o estar em todo o lado e o não perder nada do que acontece. O nosso valor acabou por ter uma BASE MAIS QUANTITATIVA DO QUE QUALITATIVA.

O importante é perceber que é impossível estar em todo o lado e que HÁ LIMITES. Pensamos que está alguma coisa mal conosco quando não conseguimos fazer tudo, e isso é uma atitude autodestrutiva e um objetivo impossível. Temos limites. NÃO SABER RECONHECÊ-LO É UMA VIA ABERTA PARA AUMENTAR A ANSIEDADE E A DEPRESSÃO.

ESTRATÉGIAS PARA MINIMIZAR O FOMO:

1. QUESTIONE-SE: Experimente pensar, sempre que sentir a ansiedade de estar a perder um momento importante, sobre estas simples perguntas. São essenciais para que consiga perceber se essa ansiedade que está a sentir é real ou não.

[A] É ISTO ALGO QUE EU GOSTAVA REALMENTE DE ESTAR A FAZER? | Este sentimento nem sempre surge de ver alguém fazer algo que a pessoa gostaria de estar a fazer: o FOMO não está relacionado com o desejo de fazer coisas, mas com o medo de perder, e o sentimento de perda de não conseguir fazer coisas. É importante perceber que o FOMO geralmente não deriva do desejo de ter feito a escolha específica que a outra pessoa fez, mas simplesmente do lembrete de que outras pessoas fizeram escolhas diferentes das suas. É isso que desencadeia a essência do FOMO: A INSEGURANÇA NAS PRÓPRIAS ESCOLHAS. Com tantas opções o pensamento é sempre 'tomei a decisão certa?'. As consequências do FOMO vão traduzir-se neste aspeto. Se nós tivermos consciência dos nossos limites, de alguma forma lidamos melhor com as escolhas.

[B] ESTE SENTIMENTO ESTÁ A DIZER QUE PRECISO DE MUDAR ALGO? | Pode dar-se o caso de ele apontar para algo mais profundo: que não está feliz com sua vida atual e que há outra coisa que gostaria de estar a fazer. Portanto, o ponto principal é DESCOBRIR A ORIGEM do FOMO: pode haver uma boa RAZÃO PARA QUE SE SINTA INSEGURO/A SOBRE SUAS DECISÕES.

[C] ISTO É UMA REPRESENTAÇÃO FIEL DA REALIDADE? | Nem tudo o que se vê nas redes sociais e na televisão é a exata representação da realidade. Na maior parte das vezes ela é alterada, nem que seja porque SÓ MOSTRA A PARTE BOA DAS PESSOAS E DAS SITUAÇÕES. A maioria só partilha as fotografias mais bonitas e os lugares mais ‘in’. Portanto é essencial ter em mente que as imagens online são preparadas e pensadas ao pormenor e A VIDA REAL NÃO É ASSIM TÃO COR-DE-ROSA. REDUZA A UTILIZAÇÃO de smartphones, tablets, computadores ou qualquer outro dispositivo com internet. Parar de ver constantemente as publicações dos amigos nas redes sociais talvez seja uma boa solução. SELECIONE O QUE QUER VER NO SEU FEED, talvez queira “esconder” as pessoas que tendem a gabar-se mais ou que não o/a apoiem (e já agora: então por que os/as segue?).

2. FAÇA UM DIÁRIO: É comum colocarmos nas redes sociais as coisas divertidas que fazemos, de forma a fazer um registo disso mesmo. No entanto, pode dar por si a reparar se as pessoas estão a gostar ou não das suas experiências. Se for esse o caso, DEIXE ALGUMAS DAS SUAS FOTOS E MEMÓRIAS OFFLINE e mantenha um diário pessoal (online ou em papel) das suas melhores memórias. Isso pode ajudá-lo a MUDAR O SEU FOCO DA APROVAÇÃO PÚBLICA para a APRECIAÇÃO PRIVADA das coisas que tornam a sua vida ótima. Às vezes, esta mudança pode ajudá-lo a sair do ciclo das redes sociais e do FOMO.

3. PROCURE LIGAÇÕES REAIS: Pode dar por si à procura de alguém quando se sentir deprimido/a ou ansioso/a, e isso é saudável. Por vezes, quando nos sentimos sós ou excluídos/as, percebemos que temos a necessidade de procurar mais ligações com os outros e AUMENTAR A SENSAÇÃO DE PERTENÇA. Infelizmente, nas redes sociais nem sempre é o caminho para conseguir isso. Fazer planos com um bom amigo, organizar um passeio em grupo ou fazer qualquer coisa num CONTEXTO SOCIAL QUE O FAÇA SAIR com os amigos pode ser uma boa mudança de ritmo e pode ajudá-lo a diminuir a sensação de que está a perder algo. Coloque-se NO CENTRO DA AÇÃO. Se não tiver tempo para fazer planos, uma mensagem direta nas redes sociais para um amigo pode promover uma conexão maior e mais íntima do que criar um post para todos os seus amigos e esperar por “gostos”.

4. CONCENTRE-SE NA GRATIDÃO: Os estudos mostram que envolver-se em atividades que aumentam a gratidão, como fazer um DIÁRIO DE GRATIDÃO ou simplesmente DIZER AOS OUTROS O QUE APRECIA NELES, pode ajudá-lo a sentir-se melhor consigo mesmo, assim como todos à sua volta. Assim, é mais difícil sentir que lhe falta qualquer coisa quando se foca no que realmente já tem.

Com estima,

Carlos Marinho

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