- Crítica
- Desprezo
- Defensividade
- Indiferença/Stonewalling
- Insensibilidade para a Escuta Ativa ("Ele/a Não Me Ouve")
- Dragar o Passado
- Presos/as ao Problema
- Shut Down de Possibilidades
- Contabilidade Afetiva/"Scorekeeping"
- Redireccionamento da Culpa
- Estar do Contra
- Dificuldades no Controlo de Raiva
- Atitude Passivo-Agressiva
- Invalidação
- Monólogo
- Conversas de Dominação /One-Up Manship
- Gaslighting
- Mansplaining
- Declarações Não-Autorizadas
- Conselho Não Solicitado
- Projeção
- Injunções Paradoxais
- Mentira/Confabulação
- Iliteracia Emocional
- Distorções ao Nível de Conteúdo e Relação
- Erro de Tradução Digital/Analógico
- Problemas na Pontuação da Sequência de Eventos
- Desencontros ao Nível da Linguagem Amorosa
O QUE FAZER? | É da nossa responsabilidade relacional ensinarmo-nos uns aos outros sobre como queremos e precisamos de ser tratados/as – não só não há problema como, na verdade, não nos podemos dar ao luxo, de não comunicar sobre algo que nos desagrada na relação, ou sobre necessidades e desejos que poderão não estar a ser (devidamente) satisfeitos. E é possível fazê-lo sem críticas – através do “soft start up”, uma prática da comunicação não-violenta. Um dos seus recursos é usar afirmações começadas por “eu” (evitando o ‘apontar de dedo’ acusatório ao outro). Um exemplo:
Em vez de dizer: “Tu já não me dás atenção nenhuma”, poderá dizer: “Eu sinto falta da tua atenção”.
Ou…
Em vez de dizer: “Só falas de ti”, poderá dizer: “Eu sinto-me algo ignorado/a. Gostava de falar sobre como foi o meu dia: parece-te bem?”.
NOTA: Ajuda expressar semelhantes sentimentos e pensamentos à medida que surgirem, por oposição a reprimi-los e acumulá-los, até que o ressentimento venha à tona.
2. DESPREZO: Manifesta-se em atitudes agressivas e de falta de respeito, que são diretamente expressas ao outro, como insultos, ameaças, ofensas, piadas, sarcasmo e humilhações, que implicam uma atitude de superioridade por parte de quem despreza. A pessoa desprezada sente-se diminuída e anulada. É o mais forte dos presságios de fracasso de uma relação e, geralmente, alimenta-se de pensamentos negativos guardados há muito, a respeito do(s) companheiro(s)/companheira(s).
O QUE FAZER? | Recomenda-se a construção de uma cultura de apreciação mútua (o que, claro, não acontece de um momento para o outro), assente na capacidade de pensar de forma positiva sobre o/a seu/sua parceiro/parceira, de acreditar que o Outro é digno de carinho e de admiração (ajuda lembrar as primeiras impressões com bons sentimentos), concentrando-se nas suas características positivas, demonstrando estima e afeto por isso. Para cada interação negativa sugere-se, pelo menos, 5 interações positivas.
A ‘cultura da apreciação mútua’ não depende apenas de elogios. Perceber alguns esforços diários do/a parceiro/a para facilitar ou melhorar a vida de ambos/as – mesmo que sejam coisas “pequenas” (como acordar mais cedo para nos fazer café) – é de extrema importância.
3. DEFENSIVIDADE: Refere-se à atitude defensiva que incorremos quando nos percebemos na mira de um ataque – ou seja, quando consideramos que a culpa pelo início das tensões é do outro (“o problema não é meu – é teu”). Protegemos os nossos sentimentos, fechando-nos em nós próprios/as, nada fica resolvido, e a fratura vai aumentando. Esta postura tende a desresponsabilizar a pessoa da sua quota parte no conflito/dificuldade, dificultando a mudança necessária para solucioná-la. Muitas vezes envolve um ataque, que pode surgir sob forma de censuras, ameaças, e juízos de valor, e ficamos mais concentrados em “atacar por defesa” do que em assumir a responsabilidade e a procura de soluções. Nota de atenção para a utilização de certos sintomas como forma de escape à autoresponsabilização e conversação.
O QUE FAZER? | A batalha é aqui contra o orgulho, o medo e o desejo egóico de estarmos sempre certos/as, sempre em controlo, sempre em posição de dominância (e quem, senão alguém inseguro/a, precisa de estar sempre tão no controlo?). Aceitar a própria vulnerabilidade não é tarefa fácil, mas é concretizável: implica consciência, humildação, disciplina e a boa vontade de ir ao encontro do Outro, na expectativa (legítima) de que este seja um movimento recíproco. O amor começa aqui: na capacidade de sairmos de nós próprios/as, da nossa própria dor, para nos ocuparmos do Outro, e vice-versa – “Eu cuido de ti, tu cuidas de mim”. A comunicação implica um diálogo – o diálogo implica a escuta atenta do outro, e não uma mera defesa da nossa posição. O que se quer é uma conexão profunda e autêntica, além-muralhas. O esforço compensa quando nos sentimos amparados/as na nossa própria vulnerabilidade. Assumir certas responsabilidades é consequência natural. Um dos maiores prazeres da maturidade emocional é saber fazer triunfar o amor sobre o ego.
4. INDIFERENÇA/"STONEWALLING": Trata-se de mostrar indiferença para evitar o conflito. Distanciamo-nos e desconectamo-nos dos argumentos do outro, e da própria pessoa, como se a questão nos não estivesse relacionada. Geralmente, evitamos o conflito por estarmos já sobrecarregados/as emocionalmente. É uma estratégia negativa porque, novamente, nos afasta da solução (se não assumirmos o problema, nada será resolvido).
Entenda-se que os conflitos são a expressão das diferenças e desejos encontrados, servindo para esclarecer e para nivelar expectativas. Servem para reafirmar, por um lado, a individualidade dos membros do casal e, por outro lado, encorajá-los a reforçar o ‘nós’ relacional, trazendo assim a ambos o germe da transformação e do crescimento. Contrariamente ao afastamento/evitamento, discutir a relação de forma aberta favorece a interação intimista, incentiva o espírito de confiança, de compromisso, e de respeito mútuo.
Geralmente, o afastamento é um comportamento inconsciente incorrido para tolerar o desconforto vivido na relação. Não raro, encontrámo-lo baseado em comportamentos aprendidos no círculo familiar em que fomos criados/as. Relações familiares tensas, com pouca afetividade, resultam frequentemente em pessoas incapazes de – ou com grande dificuldade em – expressar as próprias emoções. Mesmo apaixonadas, estas pessoas marcam uma certa distância do/a outro/a, já que é o que está no seu ‘banco de dados’ interno: ninguém lhes ensinou a demonstrar carinho e, consequentemente, não sabem como fazê-lo. Pode também acontecer que a pessoa tenha sido criada num ambiente em que as figuras cuidadoras estavam em constante conflito, levando-a marcar uma certa distância como forma de evitar que a mesma coisa aconteça no seu lar.
O 'stonewalling' pode implicar atitudes de silêncio (‘silent treatment’), uma expressão corporal passiva, inexpressão, evasão, dizer-se (sempre) ocupado/a, incorrer comportamentos obsessivos, dar respostas repassadas de lacunas, ou levar tudo para a brincadeira (não é mentira que o humor ajuda a aliviar a tensão e o stress, que eleva o estado de ânimo e de energia, que pode ajudar a solucionar problemas no relacionamento e a fortalecer o vínculo entre o casal, mas quando usado como forma de evasão, recaímos no 'stonewalling'). Quando desta forma nos retiramos do conflito, deixamos o/a(s) nosso/a(s) parceiro/a(s) sozinho/a(s) na conversa, o que é porta aberta para grande frustração e ressentimento.
O QUE QUE FAZER? | Shakespeare falava dos soldados que desertavam da batalha, para voltarem no dia seguinte mais fortes. O truque também aqui se aplica: se algo nos fragilizar emocionalmente, ou provocar outra forma de reatividade emocional negativa, afastarmo-nos para procurar alguma acalmia poderá ser a melhor política possível. Só precisamos de garantir duas coisas: 1º: de que avisamos o/a(s) nosso/a(s) parceiro/a(s) de que precisamos desse tempo, e tranquilizá-lo/a(s) de que voltaremos; 2º: de que, durante o tempo desse intervalo, procuramos acalmar-nos e não ruminar sobre o desentendimento. A autocomiseração não ajudará: é uma chamada à ação, uma chamada à resolução – então, aja.
5. "ELE/A NÃO ME OUVE" / INSENSIBILIDADE PARA A ESCUTA ATIVA: Uma situação bastante comum nos relacionamentos é a incapacidade de ouvir de uma ou ambas as partes. O diálogo é formado por dois elementos: a fala e a escuta. Para que duas pessoas dialoguem com qualidade, ambos precisam estar presentes. Quando um dos cônjuges tem algo a dizer, mas não consegue se expressar sem abrasividade, a intensidade das emoções ou assusta o parceiro ou o incentiva a retaliar. Logo, as conversas transformam-se em campos de batalha.É comum ver como nas conversas as pessoas ouvem para responder, ao invés de entender a mensagem que a outra pessoa quer passar. Quanto mais tempo essa situação continuar, maiores serão as consequências negativas que ela deixa. Quando isso acontece durante as discussões, elas ficam cada vez mais acaloradas, e nunca é possível chegar a um ponto conclusivo, pois os integrantes do casal se interrompem constantemente, impedindo que alguém expresse seus pontos de vista normalmente.
A sensibilidade para a escuta ativa permite-nos não só ouvir o que a pessoa nos disser, como tentamos também obter o significado da sua mensagem. A escuta ativa pode ajudar-nos a manter uma conversa, e pode ajudar-nos a conhecer alguém melhor. Durante a escuta ativa não devemos atropelar o discurso do Outro falando das nossas próprias experiências – a escuta ativa é apenas acerca do que a outra pessoa está a dizer.
O QUE FAZER? | Há quatro etapas principais na escuta ativa…
5.1. Atender: Atender significa ouvir e entender. A pessoa percebe que a está a ouvir devido à sua linguagem corporal – o seu rosto mostrará interesse e fará contato visual apropriado e gestos, tal como menear a cabeça encorajadoramente;
5.2. Parafrasear/Escuta reflexiva: Significa ouvir alguém com completa atenção e, em seguida, repetirmos o que essa pessoa disser utilizando as nossas próprias palavras. É frequentemente utilizada quando a pessoa que fala está a contar algo que a perturba. Por exemplo, se um/a amigo/a lhe disser: “Sinto-me mesmo triste por o meu gato ter morrido”, poderá sempre querer dizer: “Essa perda deixou-te mesmo triste, e vejo que está a ser difícil para ti lidares com isso” ao invés de “Podes sempre arranjar outro gato”. A escuta reflexiva mostra que temos empatia com a outra pessoa, ou seja, que entendemos o que ela está a sentir, ao mesmo tempo que a apoiamos;
5.3. Clarificar: Clarificar significa pedir mais informações para nos certificarmos de que entendemos o Outro. Poderá perguntar: “Podes dizer-se mais sobre isso...?” ou “Como é que te sentes em relação a isso?”;
5.4. Feedback: Dar feedback envolve descrever o que entendeu sobre os sentimentos da pessoa. Usando o exemplo anterior, poderá dizer: “É importante aceitarmos que as perdas fazem parte da vida, e que apesar de a interação com o teu gato ter cessado, ele fará sempre parte das memórias afetivas da tua história de vida".
6. DRAGAR O PASSADO : Envolve o revisitar de um conflito passado. Sempre que a tensão emocional aumenta, cavam-se valas com o intuito de desenterrar esqueletos antigos e mostrar ao outro o quão assombrada está a relação. É uma forma de justificarem as suas ações numa espiral recursiva de tempos passados (há sempre um esqueleto no passado, à espera de ser desenterrado que justifica o momento presente).
7. PRESOS/AS AO PROBLEMA: Atitude de insistência na queixa em relação à existência de um problema, ao invés de: (a) trabalhar ativamente numa solução, (b) reconhecer que a outra pessoa está a trabalhar ativamente numa solução, ou (c) que a outra pessoa até já eliminou o problema por completo. A pessoa presa ao problema não reconhece os avanços na situação e recusa-se, consciente ou inconscientemente, a seguir em frente.
8. SHUT DOWN DE POSSIBILIDADES: Atitude derrotista relativamente a um problema ou dificuldade, que frequentemente catastrofiza as situações, maximizando aspetos negativos e menorizando os positivos, e que se expressa por profecias como: “Não vai funcionar”, “Já tentamos isso”, “Não vai acontecer”, ou expressões do género: “não pode”, "impossível” e “esquece”. Muitas das vezes, estas pressuposições tornam-se crenças, provocando assim a sua própria concretização - chamamos-lhes 'profecias autocumpridas' ou 'efeito Pigmaleão'. Quando as pessoas esperam ou acreditam que algo acontecerá, agem como se a profecia ou previsão fosse já real e assim a previsão acaba por se realizar efetivamente.
9. CONTABILIDADE AFETIVA / "SCOREKEEPING": O velho ditado: “dois erros não fazem um acerto” nunca foi tão relevante. Embora seja razoável esperar que as relações se pautem pela reciprocidade, raramente são uma questão de 50-50 exatos. Provavelmente descobrirá que é mais doador/a ou recebedor/a em diferentes relações, em momentos diferentes, e é essa dinâmica que lhe traz o equilíbrio.
O QUE FAZER? | Pondere as seguintes atitudes...
9.1. Cultive a gratidão. A apreciação é o antídoto para o 'scorekeeping'. Quanto mais se concentrar nas boas qualidades das suas parcerias, amigos e familiares, menos notará as suas faltas e insuficiências. Pode até começar a descobrir as coisas incríveis que fazem por si e que vinha ignorando até agora.
O QUE FAZER? | Diante de alguém que esteja a redirecionar, tente resolver a situação usando afirmações "eu", em vez de afirmações "tu" (já que esta linha de abordagem colocará a pessoa na defensiva). Por exemplo, ao invés de apontar: “Estás a desviar a conversa” ou “Não me estás ouvir", talvez possa querer dizer: “Estou a tentar falar contigo obre isto porque é importante para mim que estejamos em sintonia".
11. ESTAR DO CONTRA: Uma tendência subconsciente de assumir a posição oposta, não importando o assunto ou a posição da outra pessoa, tipicamente associada à necessidade de uma autovalorização a expensas da menorização dos outros (e indicador de um possível complexo de inferioridade).
12. DIFICULDADES NO CONTROLO DE RAIVA: Esta situação gera um ciclo vicioso através do qual a raiva nos faz transmitir certas ideias de forma inadequada, sendo que os estilos de comunicação inadequada desencadeiam ainda mais raiva. Esta emoção não é mais do que a experiência da mágoa, podendo expressar-se de várias formas, como o ficar-se irritado/a, ressentido/a, indignado/a, incomodado/a ou amargurado/a. A função da raiva é dar-nos energia para manifestar a mágoa quando ela está presente. Pagamos a penalização do mal-estar ao negarmos as nossas emoções, pois é como se passássemos a viver uma falsa realidade.
Sempre que experimentamos a raiva, repetimos o mesmo padrão: sofremos com um determinado acontecimento, adiamos a expressão da mágoa por um ou dois momentos e ficamos ressentidos/as por termos sido magoados/as. Quando tal acontece, refletimos sobre o momento, tentamos determinar o que aconteceu e decidimos o que fazer. Logo, é importante que a intensidade da raiva expressa seja adequada ao momento sofrido.
Quando manifesto de maneira ineficaz, o ressentimento restante fica na “fila de espera” para ser exposto numa próxima oportunidade, quando muito provavelmente já existirá alguma raiva acumulada, o que tendencialmente ocorre na hora e no lugar mais inadequados e, muitas vezes, sobre a pessoa errada. Como permanece não-resolvida, é como se ficássemos obcecados/as.
Mas, por que é tão comum inibirmos a expressão da raiva, uma vez que este é um sentimento natural? Os motivos são vários: medo de ser rejeitado/a, de admitir a própria vulnerabilidade, de ser mal interpretado/a, de alguém sair ferido/a, de se perder o controlo, para numerar algumas. Culturalmente, aprendemos também que não é concordante com o decoro social expressarmos raiva em relação aos nossos pais ou a outras pessoas que se espera que respeitemos.
Desenvolver a tão desejada liberdade emocional não é tarefa fácil, mas é preciso, acima de tudo, deixar que os sentimentos negativos como a dor, a raiva e a mágoa sejam ventilados até se esgotarem e desaparecerem.
Quando nos permitimos sentir as emoções ficamos conscientes de que elas nos pertencem, mas não fazem parte da nossa essência. Por outras palavras, não somos as nossas emoções: podemos manifestá-las sem que o nosso valor ou carácter se percam, sem que o nosso 'Eu' se despersonalize e dilua.
A raiva, em si, não é prejudicial: mas a sua acumulação pode ser extremamente perigosa. Permita-se sentir a mágoa, quando a rejeição, a deceção, a traição, a vergonha ou o fracasso acontecerem: será pior evitá-lo. Podemos dizer que começa a cuidar da sua saúde emocional quando admite a verdade da dor. Reconhecer as suas fraquezas dá-lhe um controlo real. Para informação mais específica e compreensiva, veja no artigo O DESAFIO DA (RE)CONEXÃO COM O 'SELF' [MANUAL DE BOLSO - Versão 2024], os pontos 3, 4 e 5 do capítulo 2.
O QUE FAZER? | Pondere as seguintes propostas...
12.1. Tomada de consciência /aceitação: Em primeiro lugar, terá de reconhecer a emoção de raiva. Essa tomada de consciência permite que se torne um/a observador/a de si próprio/a e daquilo que está a sentir, contribuindo para o afastamento da emoção em causa. Ao observar as emoções, mas não necessariamente agir sobre elas, descobrirá que não são assim tão catastróficas. A melhor forma de se tranquilizar é libertar-se à força de aceitar a sua presença, ao invés de lutar contra ela ou reprimi-la. Lembrar-se de que as emoções vão e vêm. São como as ondas do mar. E a maior parte das emoções só dura segundos ou minutos. Importa então perceber de que forma tende a gerir as suas emoções (negação/repressão versus aceitação/ventilação) e por que motivo o faz. Este último ponto implica algum estudo e reflexão sobre as aprendizagens emocionais que foi fazendo ao longo do seu desenvolvimento, na mira de identificar que experiências contribuíram para a sua forma de gestão emocional.
12.2. Corpo e respiração: Outra forma de apaziguar a raiva será aprender a responder adequadamente aos sintomas físicos da raiva. Entrar em contacto com o seu corpo e com a sua respiração leva a que regularize esse pico emocional e se sinta mais controlado/a. A respiração profunda permite que o organismo absorva mais oxigénio, para além de diminuir o ritmo cardíaco e evitar que a adrenalina chegue tão rapidamente à corrente sanguínea. Esta respiração é profunda porque envolve a área do estômago ou diafragma, e não o peito. É rítmica e lenta. Quando detectamos alterações físicas indicativas de sentimentos de raiva, devemos parar por um momento e focarmo-nos na respiração: por norma, será rápida e superficial. Se quebrarmos este ciclo e voluntariamente começarmos a respirar lentamente e pelo diafragma, o organismo irá responder e as alterações físicas serão amenizadas. Os músculos começam a relaxar e a sensação de tensão a diminuir. Respirar desta forma consciente e concentrando-se no seu abdómen, durante algum tempo, vai seguramente apaziguá-lo/a.
13. ATITUDE PASSIVO-AGRESSIVA: Baseia-se em aparentar compostura, expressão calma, tom de voz moderado e fingir que 'está tudo bem', quando na realidade estamos irritados/as, dando-o a conhecer de forma indireta e ambígua. Se conseguir ficar calmo/a ou controlado/ durante as discussões, evite que as suas palavras sejam direta ou indiretamente ofensivas: não basta manter um tom de voz adequado e boa compostura quando o que dizemos fere a outra pessoa. Mensagens de duplo sentido, piadas mal-intencionadas, ironia, interpretação do papel de vítima, crítica, comentários sarcásticos, ignorância, e até mesmo a procrastinação, fazem todas parte do mesmo pacote passivo-agressivo. Alguns exemplos: “Só queria a tua autoestima para não me preocupar com o meu aspeto”, “Porque é que fizeste isso? Estavas melhor antes”, “Estás a ver: ficas bem bonito/a quando te arranjas”, “Porque é que ficas assim? Não é caso para tanto”, “Se continuas com essa atitude, ninguém te vai querer”, “Tantos anos a estudar e não te serviram de nada”
Consegue identificar alguma? A pessoa passivo-agressiva é caracterizada por ser ambígua ou subtil, deixando-nos desconfortáveis e/ou confusos/as. Em certas ocasiões, percebemo-la respeitadora e educada, mas noutras mostra já hostilidade e rejeição sem motivo aparente. É frequente ter expressões indiretas de hostilidade para conosco, seja através de insultos velados, formas de diminuir-nos apontando os nossos pontos fracos, como se quisesse fazer uma crítica positiva. Esta tendência também se manifesta quando ignora sistematicamente as nossas opiniões como se, por virem de nós, não tivessem valor, e às vezes através do silêncio.
Esta forma de comportamento passivo-agressivo pode deixar-nos inseguros/as quanto às nossas habilidades sociais; pode fazer-nos questionar constantemente se fizemos algo de errado, se a pessoa tem realmente motivos para sentir raiva de nós.
Na mesma linha, a pessoa passivo-agressiva tende a ter problemas de comunicação nos diferentes ambientes em que vive. Pode enviar mensagens confusas, fazer declarações e depois negá-las, anunciar que vai se comportar de uma maneira e depois agir de outra, acusar os outros de mentir - tornando-se incapaz de nos oferecer previsibilidade e, consequentemente, segurança.
Há uma tendência nas pessoas passivo-agressivas para se fazerem reclamações constantes sobre serem desprezadas ou usadas pelos outros. Afirmam sentir-se subestimadas, pouco valorizadas e pouco reconhecidas pelos seus talentos e habilidades. Semelhantes comportamentos de vitimização tornam-se formas de manipulação emocional para se obterem vantagens no contexto das relações. Consequentemente, as pessoas expostas a estas recriminações tendem a sentir-se culpadas e desejam compensar os sentimentos de incompreensão e rejeição que assumem gerar.
O QUE FAZER? | A melhor maneira de travar este comportamento é através de uma comunicação clara e assertiva. Quando estiver num momento calmo, confronte a outra pessoa diretamente. Explique-lhe o comportamento e o motivo pelo qual é problemático, estabelecendo limites claros. Caso estes limites sejam constantemente violados, talvez seja importante repensar a própria relação, e questionar-se: por que motivo me permito manter relacionado/a com esta pessoa?
14. INVALIDAÇÃO: A invalidação emocional transmite a mensagem de que a sua experiência emocional não importa ou é inadequada. Frases como: “Tu és tão sensível, não se pode falar de nada”, “Ai, levas tudo para o lado pessoal”, ou “Tu dás demasiada importância às coisas”, são exemplos de invalidação emocional, em que a pessoa que busca compreensão e apoio é criticada e rejeitada.
A invalidação emocional, entenda-se, não é apenas verbal. A indiferença pela dor ou preocupação do Outro é também uma forma de invalidar os seus sentimentos, e pode ser expressa pelo não prestar atenção quando a pessoa está a falar sobre um tema significativo, ou menosprezá-lo com gestos e atitudes mais subtis.
A maioria das pessoas torna-se ‘invalidadora’ por dificuldade em processar devidamente as emoções que o Outro lhe transmite. Muitas vezes porque esses sentimentos são opressores para a pessoa, ou simplesmente desagradáveis, levando-a a rejeitá-los interiormente e assim, invalidar a pessoa que os vivencia. Na verdade, não se pode ignorar que vivemos numa sociedade profundamente invalidadora do ponto de vista emocional, em que os estados afetivos são até considerados um “entrave” indesejável. O sofrimento gera demasiada angústia para quem adora o hedonismo e o 'ideal da felicidade permanente'.
Noutros casos, a invalidação resulta de a pessoa estar demasiado centrada nos seus próprios problemas para desumbigar-se e colocar-se no lugar do Outro – seja por estar a passar um momento difícil, seja por ser demasiado egocentrada.
A invalidação emocional costuma gerar confusão, dúvidas e desconfiança em relação às nossas emoções. Se, quando expressamos o que sentimos, uma pessoa próxima e significativa nos diz que não o devemos sentir, podemos começar a desconfiar da validade das nossas experiências. No entanto, questionar as nossas emoções não as fará desaparecer, apenas tornará mais difícil para nós geri-las de forma assertiva.
Estudos mostram que quando a invalidação inibe a expressão de emoções primária – como a tristeza – geralmente somos levados/as a um aumento de emoções secundárias, como a raiva e a vergonha. O comprometimento emocional pode contribuir para que uma pessoa predisposta desenvolva problemas de saúde mental, como depressão ou sintomas agravantes. Quando a invalidação vem do círculo mais próximo e é um padrão que se repete com o tempo, a pessoa aprenderá a reprimir os seus sentimentos. É também provável que se sinta profundamente sozinha e incompreendida.
Foi ainda descoberto que as pessoas que sofreram de invalidação emocional na infância têm maior probabilidade de sofrer de perturbação borderline, caracterizada por impulsividade, labilidade emocional, sentimentos crónicos de vazio e problemas de gestão emocional. Em adolescentes, o comprometimento emocional tem sido associado a um risco aumentado de automutilação.
Devemos ter em mente que as reações emocionais não são passíveis de se caracterizar como corretas ou incorretas. Não é possível controlar a emergência das nossas emoções, pelo que não há razão para condenar, ignorar ou rejeitá-la, seja qual for o seu valor. Podemos, isso sim, controlar a forma como nos posicionamos diante delas.
Para validar as emoções de outra pessoa, devemos primeiro abrir-nos à sua experiência. Isso significa estar disposto/a a ouvir com atenção e estar totalmente presente, colocando de lado todas as distrações à conexão emocional. Significa estar disposto/a a colocar os seus problemas de lado, naquele momento, para que possa empaticamente chegar ao Outro. Finalmente, envolve o uso de uma linguagem mais afirmativa e compreensiva, substituindo frases como: "Poderia ter sido pior" por "Sinto muito pelo que aconteceu"; “Acho que estás a exagerar” por “Imagino como isso deva ser mesmo frustrante”, e “Tens de superar isso de uma vez por todas” por “O que posso fazer para te ajudar?”. A validação emocional é uma arte aprendida.
15. MONÓLOGO: Diatribe longa e monótona, em que a pessoa quase não faz uma pausa perceptível, impedindo a outra de falar e emitir as suas próprias opiniões;
16. CONVERSAS DE DOMINAÇÃO/ONE-UP MANSHIP: Contrariamente ao monólogo, existirá algum diálogo neste padrão. Ainda assim a maior parte do monopólio conversacional pertence a um/a dominador/a. Mudanças de tom e volume de voz são usados para calar habilmente a outra pessoa, sempre que esta tentar falar. Em muitos casos, este padrão descreve-se através da premissa: “O que quer que tu faças, eu faço-o melhor”.
17. GASLIGHTING: O 'gaslighting' é um tipo de violência psicológica e emocional de natureza manipulativa, que ocorre predominantemente nos relacionamentos afetivos, podendo também ocorrer em qualquer outro registo relacional – familiar, profissional e de amizade. O objetivo do/a 'gaslighter' é confundir a percepção que a vítima tem da realidade e de si mesma. O termo surge do filme americano “Gaslight” ("À Meia-Luz", em português) de 1944. A história descreve um marido que tenta fazer a esposa acreditar que ela está a enlouquecer, ao manipular pequenos detalhes do ambiente da casa; ao longo da trama, ela começa a duvidar de si mesma e a desconfiar efetivamente da sua própria sanidade.
O termo “gaslighting” é empregue para descrever toda a forma de manipulação cujo objetivo é semelhante ao do marido no filme. Na vida real, o/a manipulador/a psicológico/a procura obter poder sobre a outra pessoa, enquanto a vítima passa a considerar mais a opinião e a percepção do/a manipulador/a do que a sua própria. Mesmo que ela perceba algo de errado no relacionamento, tenderá a não conseguir desenvencilhar-se por temer estar equivocada. Deixando de acreditar em si mesma, coloca-se numa posição de vulnerabilidade perante o outro, que aproveita para reforçar a violência psicológica. Pensemos nos exemplos:
Vítima: "Estás a controlar demais as minhas ações" / Agressor/a: "Tens mesma a certeza do que estás a dizer? Estou só a tentar ajudar-te a tomar boas decisões. E isso quer dizer que me importo contigo"
Ou.. Agressor/a: "Dizes isso por causa dos problemas que tiveste na infância" ou "Já sabes que ficas mais emocionado/a nesta época do ano, e por isso não podes confiar muito nos teus pensamentos".
Quando a manipulação alcança um grau extremo e perceptível até para quem está de fora, a vítima encontrar-se-á já num estado de grande fragilidade. Embora sofra, não conseguirá terminar o relacionamento abusivo com o/a manipulador/a: além de tudo, encontra-se numa relação amorosa, ou seja, haverá uma mistura de sentimentos positivos e negativos. Os/As manipuladores/as emocionais usam diferentes táticas de 'gaslighting' para desestruturar a vítima. Esteja atento/a aos seguintes:
17.1. Mentira: As mentiras tentam levantar dúvidas na cabeça da pessoa acerca do seu comportamento, da sua inteligência, das suas emoções e os dos seus demais relacionamentos, como com amigos e familiares. Porque tipicamente sustidas com extrema confiança, as mentiras tendem a colocar a perceção da vítima em dúvida.
17.2. Negação da Realidade: O sinal de alerta clássico do 'gaslighting' é a negação da realidade por parte do/a manipulador/a. Tudo o que a vítima diz é descartado como “loucura”, “mal-entendido”, “erro de intepretação” e outras desculpas para fazê-la duvidar do que realmente está em jogo. Da mesma forma, quando a vítima questiona o porquê de o/a agressor/a ter dito determinadas palavras, o/a agressor/a é capaz de repontar: “eu não disse nada disso: está a alucinar".
17.3. Chantagem: O/A manipulador/a sabe usar o que a vítima ama contra ela. O/A manipulador/a reconhece a importância da família, dos amigos, dos filhos e do trabalho na sua vida, e usa-os como elementos de perversa sedução para desestabilizar sua autoconfiança. No caso de filhos, podem dizer que a pessoa não é boa o suficiente como pai ou mãe, que não faz nada certo, ou que está constantemente a cometer erros. Por outro lado, o/a manipulador/a afirma que a vítima está constantemente a quer fazê-lo/a sentir-se mal, que ela não se importa com ele/a de verdade, e que não sabe por que ainda continuam juntos/as (deita toda a responsabilidade dos seus sentimentos para ela).
17.5. Aumento Gradual de Manipulações: As manipulações psicológicas e emocionais não costumam acontecer de uma vez só. Ocorrem gradualmente, começando com pequenos comentários e chantagens. Dessa forma, o/a manipulador/a não denuncia as suas verdadeiras intenções e consegue conquistar a vítima. Quando vasculha as suas memórias, no entanto, consegue perceber que o/a manipulador/a se comportava de maneira muito diferente no começo da relação.
17.6. Incoerência: O/A manipulador/a não segue as suas próprias palavras. Possui diversas condutas incoerentes com o objetivo de plantar dúvidas na cabeça da vítima. Por exemplo, pode afirmar ser uma pessoa justa, mas demonstra ter comportamentos opostos aos seus supostos valores.
17.7. Palavras Amáveis: Para confundir a vítima, quem pratica 'gaslighting' sabe também ser extremamente carinhoso/a. Age com amabilidade para conquistar a vítima sempre que ela se sente muito vulnerável. Assim, consegue criar um ciclo de agressões psicológicas e interações amáveis, impedindo que a vítima termine o relacionamento.
17.8. Exaustão Mental: A frequência de manipulações é extenuante. A vítima começa a acreditar que está a enlouquecer, o que faz com que a sua capacidade de tomar decisões seja mais e mais reduzida. 9
17.9. Acusações Descabidas: Não infrequentemente, o/a manipulador/a acusa a vítima de traição, de comportamentos inadequados, de querer magoá-lo/a, de ser uma má pessoa, entre outros. Mesmo que as suas palavras não façam sentido, o drama bem encenado tende a convencer a vítima. Por seu turno, a vítima, fica tão preocupada em defender-se que não percebe os demais sinais de alerta.
17.10. Constrangimento: Uma forma típica de manipulação psicológica é o constrangimento público e/ou privado da vítima. O/A manipulador/a faz comentários ácidos em tom de brincadeira ou tenta constrangê-la sem hesitação na frente de amigos e familiares, como forma de desmoralizá-la ainda mais.
O QUE FAZER? | Se estiver a ser vítima de 'gaslighting' procure pessoas queridas para lhe oferecer apoio. Amigos e familiares são peças-chave para o sucesso do processo de afastamento do/a manipulador/a. Sem apoio, a vítima raramente consegue deixar a situação. O gaslighting é crime? Sim! Pode ser enquadrado, por exemplo, a partir da Lei Maria da Penha, que trata da violência doméstica contra a mulher. Segundo a Lei Maria da Penha, são várias as condutas criminais que caracterizam o 'gaslighting', desde que comprovada a intenção do/a autor /ade enganar a vítima em proveito próprio.
O 'mansplaining' tem um claro efeito sobre as relações de poder, o que pode supor que a mulher seja anulada em âmbitos profissionais. Acontece igualmente em conversas com colegas ou chefes que se consideram mais sábios, experientes ou inteligentes. Embora a maioria das situações relacionadas com o 'mansplaining' esteja direcionado às mulheres, podem também acontecer casos de 'mansplaining' dirigidos a homens. Isto costuma acontecer em contextos nos quais a competitividade é muito grande. É mais difícil que este fenómeno parta de mulheres dirigido a homens. Por um lado, não existe uma cultura tradicional que as tenha educado nesse sentido; por outro, são vários os estudos que apontam que as mulheres têm uma maior preferência pelas relações simétricas.
Extensões deste fenómeno encontrámo-las no 'manterrupting', situação onde um homem interrompe a fala de uma mulher antes de ela terminar; no 'bropropriating', quando um homem se apropria e toma o crédito pela ideia de uma mulher;
O QUE FAZER? | Para lidar com o 'mansplaining' e fazer-se ouvir, as mulheres podem adotar algumas estratégias:
18.1. Conheça o seu valor: Reconheça as suas habilidades, competências e conhecimento, e acredite em si mesma. Lembre-se de que tem todo o direito a expressar as suas opiniões e a ser levada a sério.
18.2. Seja assertiva: Quando um homem começar a explicar algo de forma condescendente, seja assertiva e diga que está já familiarizada com o assunto. Não tenha medo de interrompê-lo e reafirmar a sua experiência.
18.3. Faça perguntas: Ao invés de simplesmente aceitar o 'mansplaining' faça perguntas para mostrar que já possui conhecimento sobre o assunto. Isto ajudará a desafiar a suposição de que precisa de ser ensinada.
18.4. Encontre aliados/as: Procure outras mulheres ou pessoas que estejam dispostas a apoiá-la e a defender as suas ideias. Ter aliados pode fortalecer a sua voz e torná-la mais difícil de ser ignorada ou desvalorizada.
19. DECLARAÇÕES NÃO-AUTORIZADAS: Esta dinâmica manifesta-se quando alguém declara, de forma fixa, que algo é de uma determinada maneira, mas sem qualquer prova, fundamento ou autoridade.
20. CONSELHO NÃO SOLICITADO: Comportamento de emissão de opiniões pessoais como: “Deverias fazer assim”, “Não fales com essa pessoa, ela não sabe o que diz", ou "O melhor que tens a fazer é...", sentida como intrusiva e condescendente, que muitas vezes desconsidera ou invalida a capacidade de discernimento e clarividência da outra pessoa.
21. PROJEÇÃO: A projeção é um mecanismo do nosso psiquismo que se baseia no ato de atribuir à outra pessoa as características, sentimentos ou intenções que se originam em nós próprios/as. Ou seja, esses aspectos da nossa personalidade são deslocados do interior para fora. A ameaça que sentimos dentro é tratada como se fosse uma força externa. A pessoa pode então lidar com sentimentos reais, mas sem admitir ou estar consciente do fato de que a ideia ou comportamento temido é dela mesma.
Relacionamo-nos com pessoas que revelarão o programa inconsciente necessário à nossa cura. Se não percebermos o nosso reflexo no espelho do Outro, isso significa que nos não estamos a ver a nós próprios/as. Se nos permitimos relações desequilibradas, algo não está bem dentro de nós: então, para mudar a qualidade de pessoas que atraímos, é necessário curarmos em nós os aspetos que ainda vibrem negativamente. Não lhe cabe a si curar pessoas tóxicas: mas sim, curar as partes suas que têm ressonância com a toxicidade delas.
22. INJUNÇÕES PARADOXAIS: A estrutura da mensagem paradoxal comporta uma autocontradição, ou seja, comunica dois conteúdos incompatíveis ao mesmo tempo, em que simultaneamente se afirma o que se nega e se nega o que se afirma. No número dos seus exemplos temos: "Eu quero que sejas espontâneo" (a pessoa não poderá nunca ser espontânea se a sua ação decorre de um pedido/imposição por parte de outra); "Não sejas tão obediente", "Tens que me amar", "Quero que me domines", "Tens que ter mais autoconfiança".
Quando a pessoa mente com frequência pode entrar num ciclo em que as falsas histórias acabam por tornar-se num estilo de vida para ela. Também conhecida como mentira patológica e pseudologia fantástica, a tendência duradoura e incontrolável para a mentira – a mentira compulsiva – é uma doença conhecida por mitomania. O/A mitómano/a é aquela pessoa que mente compulsivamente, sejam pequenas mentiras “inofensivas”, sejam histórias mirabolantes extremamente detalhadas.
A mitomania é também um sintoma associado à perturbação factícia, quando o/a cliente produz intencionalmente sintomas físicos ou mentais de alguma doença. Estes casos vão desde pessoas que fingem ter um surto psicótico ou sofrer de amnésia, até indivíduos que simulam vários sintomas e sinais de doenças físicas, fabricam resultados de exames, falsificam prontuários médicos para indicar uma anormalidade inexistente.
Algumas características chamam à atenção para o registo da mitomania: as histórias contadas não são inteiramente improváveis e contêm referências à realidade; as aventuras imaginárias manifestam-se em várias circunstâncias e de uma maneira crónica; o tema das aventuras é variado, mas o/a mentiroso/a acaba sempre por pintar-se como herói; as histórias não são usadas para obter vantagem ou recompensa.
A ciência não sabe ainda o que leva alguém a tornar-se num/a mentiroso/a patológico/a, mas sabe-se que mentir está frequentemente relacionado com algumas perturbações de personalidade, como a antissocial e a borderline. A pessoa mente compulsivamente, mas tem plena consciência de que o que diz é mentira (caso contrário, teríamos de considerar que a pessoa estaria a fazer não um relato mentiroso, mas um delirante).
Com relação à mitomania, pode ser difícil diferenciar o normal do patológico e fazer o diagnóstico. Se a pessoa mente com muita frequência e continua a fazê-lo mesmo quando as suas mentiras já estão reveladas, e se ela enfrenta dificuldades recorrentes com outras pessoas e ou com as autoridades por mentir tanto, isso é sinal de uma doença e aí o diagnóstico pode ser feito. O teor das mentiras também pode ajudar a diagnosticar um/a mitómano/a, já que costumam ser muito fantasiosas e extremas.
A mitomania leva a que se perca a confiança no/a mitómano, levando-o/a a ser afastado/a de todo o seu círculo social. Esta incapacidade no controlo dos impulsos é causadora de um sofrimento nítido, razão pela qual deverá ser alvo de tratamento. Nos/as dependentes da mentira, o primeiro passo a dar consiste em assumir a existência de um problema e de seguida procurar ajuda para esse mesmo problema.
24.1. AUTOCONHECIMENTO: capacidade de ler as suas próprias emoções e de reconhecer os seus efeitos; usar o “instinto” para orientar as decisões (autoconsciência emocional); conhecer as suas próprias forças e os seus próprios limites (autoavaliação); e ter uma boa noção do seu próprio valor e das suas próprias capacidades (autoconfiança).
24.2. AUTORREGULAÇÃO: capacidade de escolher respostas adequadas, e não reagir apenas por impulso, mantendo sob controlo os impulsos e as emoções destrutivas (autodomínio emocional). O objetivo da autorregulação é encontrar o equilíbrio e não suprimir as emoções. É sentir a emoção proporcionalmente à circunstância, na medida certa.
24.3. AUTOMOTIVAÇÃO: capacidade de dirigir as emoções a serviço de um objetivo ou realização pessoal, de ativar recursos suficientes para atingir os seus objetivos.
24.4. EMPATIA: capacidade de reconhecer as emoções nos outros e conseguir pôr-se no seu lugar, compreender o ponto de vista deles, e estar ativamente interessado nas questões que os preocupam.
24.5. HABILIDADES SOCIAIS/DE RELACIONAMENTO: capacidade de relacionar-se melhor, comunicando-se de maneira clara e atenta às demandas e postura do Outro.
28.1. Tempo de Qualidade: Um passeio a dois, um almoço/lanche, uma ida à praia, uma caminhada, sentarem-se no sofá, olharem um/a para o/a outro/a e conversarem – um tempo dedicado exclusivamente à pessoa amada, sem interferências, com toda a nossa atenção completamente focada nela, no intuito de ouvir, compreender e acolher;
28.2. Palavras de Apreço: Esta linguagem envolve uma comunicação verbal afirmativa, positiva e valorizadora do outro – como elogios e palavras doces, motivadas pelo desejo de fazer com que as pessoas se sintam mais valorizadas, confiantes e amadas (“Estás bonita/o”, “Essa camisa fica-te bem”, “Obrigada por teres arrumado a casa”);
28.3. Presentes: Os presentes são símbolos sensitivos do amor; podem ser comprados, encontrados ou feitos. Não é necessário gastar dinheiro em materialidades extravagantes ou dar grandes tratos à imaginação: quem se rege por esta linguagem ficará feliz com coisas simples – uma flor colhida no caminho, um cartão feito à mão, um bilhete deixado debaixo da almofada. E não espere pelos dias festivos, faça-o em qualquer dia e qualquer hora, para que seja surpresa.
28.4. Atos de Serviço: Referem-se ao que sabemos que o outro gostaria que nós fizéssemos. Estes atos podem ir desde fazer o jantar, a limpar a casa, levar o lixo, mudar a fralda do bebé, pintar um quarto, entre tantos outros. Não implica nenhuma experiência de servidão anuladora da nossa individualidade – antes, um gesto de entendimento validador do que a pessoa amada considera importante.
28.5. Contacto Físico: Muito mais além do que as relações sexuais, envolve beijar, abraçar, dar as mãos. A pessoa com esta linguagem quer sentir o calor do contacto físico, sentir a proximidade.
O marido que colabora com a esposa nas tarefas domésticas (limpa e arruma a cozinha, leva o lixo, passa a ferro, arruma e limpa a casa), todos os dias lhe dá um beijo ao acordar, ao despedir-se, ao chegar e ao deitar-se (em conjunto com um “amo-te”), mas a esposa diz que não se sente amada por ele, e exige o seu amor. O marido fica desorientado – não sabe que mais pode fazer para demostrar que a ama. Estamos perante um marido que ama com atos de serviço e uma esposa que quer ser amada com palavras de apreço.
Uma mulher, sobrecarregada e cansada, anseia que o marido colabore no que falta fazer em casa; ele observa-a, percebe-a cansada e vai ao pé dela, dá-lhe um grande abraço, diz que a ama e que é uma mulher corajosa, lutadora, bonita. Ela explode, diz que não quer saber de palavras bonitas, porque elas não arrumam a casa – ele devia colaborar. Ele fica atordoado, pois pensou que estava a ser carinhoso e a ajudá-la, amando-a. Portanto, não comunicam na linguagem do amor que o outro necessita e inicia-se uma discussão.
Mas quando um dos lados (ou ambas as partes), na tentativa de se acomodar ao que o Outro acha correto, ou para fazer jus a expectativas externas, sente que precisa de abrir mão de si e dos seus valores para poder continuar a investir na relação, a incompatibilidade anula a possibilidade de uma convivência harmónica. Se amar é tomar o Outro como parte de nós próprios/as, não podemos ser felizes se trairmos a nossa mais autêntica totalidade. Por isso, manter uma relação quando há incompatibilidade de génio pode ser uma escolha arriscada: é, muitas vezes, como remar contra a maré.
Vários são os sinais da incompatibilidade de génio: a dificuldade em conceber o Outro no nosso futuro, as discussões frequentes, o desejo de passar mais tempo com outras pessoas, a dificuldade em manter uma boa comunicação, a consciencialização de que existem valores e crenças muito diferentes, a dificuldade em ceder, o desejo intenso e frequente de mudar a personalidade um/a do/a outro/a.
É suposto o amor ser mais simples; é suposto o amor ser mais fácil. Nos relacionamentos compatíveis, ambas as pessoas se sentem confortáveis em mostrar e acolher quem são de verdade uma à outra.
Se perceber algum dos sinais que indico acima, poderá ser hora de conversar sobre o que sente. Revejam que pontos da relação precisam de melhorar. Acolham o feedback com atenção e humildade, livres de censuras e provocações. Espera-se que para chegarem a um acordo mútuo, estejam ambos/as capazes de fazer a sua devida cedência, abdicando do desejo de impor uma versão absoluta dos eventos. E se for preciso encerrar um capítulo, que o capítulo se encerre em conjunto. Poucas batalhas valem tanto a pena como a que se trava para superarmos o medo de seguir em frente, rumo à atualização da nossa autenticidade.
Tem-se perguntado se possui compatibilidade com o/a seu/sua parceiro/a? A sua relação parece não estar a funcionar, e não percebe porquê? É possível que estas questões tenham surgido em algum momento da sua relação. Questionar não é negativo, nem pode por si só significar algo conclusivo relativamente à saúde da sua relação amorosa. Acredite que se se questiona, é porque reconhece que é necessário fazer alguma coisa, é porque não está conformado/a e quer mais para si e para a sua relação.
Pode significar que na pressa de roda em movimento do dia-a-dia, as prioridades de outros tempos foram dando lugar a respostas práticas e funcionais, menos afetivas, que o tempo a dois diminuiu por força das solicitações dessa rotina, que o entusiasmo por se verem já não é o mesmo, que a intimidade perdeu terreno para outras distrações. O tempo transforma as pessoas, as experiências moldam comportamentos e pensamentos e sentimento e assim sucede também nas relações amorosas.
Sabemos que um dos principais requisitos para a satisfação conjugal remete para o conhecimento que cada um dos elementos do casal tem do mundo do outro. A este conhecimento de carácter cognitivo dá-se, em inglês, a designação de 'Love Maps'. Como um mapa vulgar, o mapa de cada elemento do casal vai sofrendo alterações à medida que se tomam novos rumos e são construídas novas estradas que decorrem da necessidade de fazer escolhas quando surgem cruzamentos ou rotundas ou, simplesmente, dos momentos de transição na vida de um casal. Se não existir uma comunicação fluida e constante, e com os efeitos provocados pela passagem do tempo, deixa de conhecer os detalhes do mapa do/a seu/sua companheiro/a e, até mesmo, o ponto em que este/a se encontra no presente.
Quanto mais conhecimento existir, mais forte será a união e relação de casal e, quanto mais detalhes do mapa do/a seu/sua companheiro/a cada um/a possuir, melhor um casal estará preparado para fazer face a acontecimentos adversos e conflitos. De facto, quando existem momentos de mudança ou crise, como seja o nascimento de um filho, uma alteração profissional ou uma situação de doença, muitos casais constatam que já não se conhecem tão bem como conheciam no início da relação – os seus mapas ficaram desatualizados.
Muitas vezes procuram-se soluções no passado para problemas do presente e chegam-se a becos relacionais, porque as soluções para os problemas atuais têm de ser descobertas no que existe agora, na pessoa em que cada um/a se tornou. Talvez seja esse um dos grandes desafios dos casais: reformular o discurso para um enquadramento atual ao invés do “Tu não eras assim”, ou “O homem/mulher por quem me apaixonei era…”.
O primeiro passo a dar será o de encontrar tempo para conversar diariamente – dez a quinze minutos ao final do dia, antes de deitar, por exemplo. Para além do conhecimento/informação que estas conversas veiculam, estão, em simultâneo, a ser trabalhadas competências de comunicação e a ser fomentada a ligação emocional do casal. Este tempo deve ser só dos dois, sem filhos, nem outras pessoas por perto. Por mais que lhe possa parecer um desafio demasiado ambicioso, quando pensa na sua vida agitada e muito preenchida por tantas, e tão diversas, exigências, vai ver que o retorno compensa realmente o investimento. Direcione o foco para aquilo que o/a faz permanecer na relação. Esses elementos encontram-se no presente com a sabedoria de uma história comum. Hora de acertar coordenadas.
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