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AUTO-INVALIDAÇÕES

Invalidas-te quando invisibilizas as tuas necessidades, quando reprimes os teus desejos, quando menorizas o que sentes, quando te culpas ou te criticas por sentir o que sentes e quando tentas silenciar as tuas emoções dizendo-te:

"Não é para tanto". Na realidade, se é importante para ti, se te preocupa tanto, então merece a tua atenção. Permite-te aceder e explorar essa realidade emocional em busca de esclarecimento e harmonia.

"Já devia ter superado isto". Acredito bem que uma parte tua se sentiria aliviada se assim fosse, mas se sentes que ainda não superaste, a última coisa que precisas é pressionar-te para fazê-lo de imediato, ou culpares-te por não o teres feito - ainda. As nossas emoções precisas de espaço e de tempo para serem atendidas e devidamente elaboradas. Passo a passo.

"Outras pessoas, no meu lugar, nem se preocupariam com isto. Já eu não deixo de carregar este peso". E pode que, tendo em conta a tua história de vida, isso faça muito sentido. Ao invés de te criticares por carregares certos fardos, pergunta-te e explora com curiosidade o por quê de o fazeres.

"Não devia sentir-me assim: há gente que passa por coisas muito piores". Sempre haverá quem passe uma experiência mais terrível e dolorosa do que a nossa porque o sofrimento humano não tem limites; isso não significa, porém, que não tenhas direito a sentires-te mal. Acolhe esse mal-estar, reconhece-o como válido. Ninguém pode controlar a emergência das emoções. Só decidir como se pontuar diante delas: não respondas com negação - mas sim, com aceitação.

"Penso demais, dou demasiadas voltas às coisas. Passou, está passado: deveria esquecer e acabar com isso". O passado fala-nos de vivências carregadas de emoções. As emoções precisam de ser elaboradas; se não o forem, cristalizam. Se não podemos simplesmente esquecer só porque assim o decidimos (não é um processo consciente), devemos amparar essas emoções e perceber que talvez necessitem de mais elaboração da nossa parte.

"Nem devia dar importância a este tipo de assunto. Sou mesmo imaturo/a". Talvez não se trate de uma questão de maturidade. Talvez a forma como a situação te impacta nos diga algo sobre situações passadas, nas quais se originaram feridas emocionais, que agora, na atualidade, em situações com significado parecido, voltam a manifestar-se. Que feridas serão essas? Quem e/ou o que as poderá ter causado?

"Sou muito emocional. Não me deveria deixar afetar tanto pelas coisas". A intensidade com que vives as tuas emoções diz-nos da tua forma de regulação emocional, não de uma sensibilidade que deva ser endemonizada. Abraça a tua sensibilidade e, paralelamente, trabalha para aprender a regular as tuas emoções, de forma a que estas sejam menos limitantes.

"Não tenho razões para estar mal. Tenho tudo para estar feliz, deveria estar, não?". Alguém que não se dá espaço e tempo para sentir, não poderá aceder à complexidade da sua realidade emocional, pelo que não poderá ver-se realmente - concluindo que não há razões para estar assim. Tratemos de agir ao contrário: aceitando como te sentes e explorando que motivos levam a que te sintas assim, além do imperativo "devo/tenho de".

Sim, é importante que nos validem. Mas não menos que nos saibamos validar a nós mesmos/as. Autovalidar-se, ou pelo menos desativar a invalidação, pode ser especialmente difícil se não nos tiverem validado antes - findas contas, a maneira como nos vemos e nos tratamos aprendemo-la através da incorporação do que vimos e do que nos ofereceram os nossos primeiros vínculos. Talvez não saibamos como fazê-lo, talvez a disposição para a autocrítica e o juízo de valor esteja muito enraizada. Talvez possamos sentir que não somos merecedores/as. As boas notícias são: podemos sempre aprender a fazê-lo. Saiba mais no consultório. 

Aqui para si,

Com estima,
Carlos Marinho

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