O STRESS (1) reduz o TEMPO DE QUALIDADE que os cônjuges passam juntos/as, o que por sua vez resulta numa redução de PARTILHA DE EXPERIÊNCIAS, SENTIMENTOS DE UNIÃO E AUTORREVELAÇÃO; (2) diminui a qualidade da COMUNICAÇÃO; (3) aumenta o risco de PROBLEMAS PSICOLÓGICOS E FÍSICOS; e (4) aumenta a probabilidade de TRAÇOS DE PERSONALIDADE expressos entre parceiros/as (ex.: ansiedade e hostilidade). Por seu turno, o apoio do/a(s) parceiro/a(s) aumenta a satisfação conjugal e que casais que enfrentam em conjunto o stress, têm mais probabilidade de aumentar a confiança mútua, o compromisso e a perceção de si enquanto equipa.
As relações íntimas são caracterizadas pela INTERDEPENDÊNCIA entre duas (ou mais) pessoas e por isso, as EXPERIÊNCIAS DE STRESS, assim como os ESFORÇOS PARA LIDAR COM OS STRESSORES ("COPING"), influenciam ambos os/as parceiros/as. O stress AUMENTA A PERCEÇÃO DOS PROBLEMAS relacionais e DIMINUI OS RECURSOS cognitivos dos parceiros para se adaptarem aos problemas. Quando sob stress, tendem a CULPAR MAIS O OUTRO sobre os problemas da relação. Envolvem-se em mais sequências de DESVALORIZAÇÃO, NEGATIVISMO contínuo e iniciação de INTERAÇÕES NEGATIVAS.
Neste contexto realçamos o conceito de STRESS DIÁDICO, definido como um evento ou situação que direta ou indiretamente ameaça ambos os cônjuges e exige respostas de coping de ambos. Podem distinguir-se dois tipos de stress diádico – DIRETO e INDIRETO. O stress diádico direto ocorre quando AMBOS OS CÔNJUGES SÃO AFETADOS por um stressor comum, simultaneamente e em grau semelhante (ex.: falta de dinheiro), embora de formas diferentes. Já o stress diádico indireto diz respeito a situações em que APENAS UM DOS PARCEIROS É INICIALMENTE AMEAÇADO, mas o outro é influenciado pelo comportamento e estado emocional do parceiro sob stress (ex.: perda de emprego de um parceiro, doença).
Na mesma linha, realçamos o conceito de COPING DIÁDICO como um processo que envolve ambos os parceiros, num esforço conjunto para CONTROLAR OS STRESSORES, que dizem respeito a ambos (quer direta quer indiretamente) que implica uma REAÇÃO AOS SINAIS DE STRESS comunicados pelo/a(s) parceiro/a(s), DELEGAÇÃO DE TAREFAS e COLABORAÇÃO PARA GERIR a situação stressora.
As ESTRATÉGIAS DE COPING que o casal utiliza para fazer face aos stressores, habilita-os a enfrentar barreiras, a lidar melhor com a crise e contribui para o aumento da RESILIÊNCIA CONJUGAL. A vivência de uma conjugalidade satisfatória representa uma forma de proteção face ao stress do dia-a-dia e tem naturalmente consequências ao nível da resiliência individual e familiar. Assim as díades resilientes apresentam recursos e capacidades que lhes permitem enfrentar melhor os desafios e crescer com essas experiências.
Enquanto mediadora do quotidiano do casal, a COMUNICAÇÃO é o principal VEÍCULO DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS dos cônjuges. De forma geral, a comunicação aumenta a probabilidade dos membros do casal se sentirem EMOCIONALMENTE PRÓXIMOS E MAIS ÍNTIMOS. Muitos e diversos são, no entanto, os obstáculos que se colocam a uma comunicação positiva no casal.
Seguindo uma das muitas direções de estudos que relacionam a comunicação com as estratégias de coping diádico, quero hoje deter-me sobre uma estratégia de coping focada na relação conjugal que a literatura científica descreve como "PROTECTIVE BUFFERING" – PB (aqui será traduzido por “TAMPONAMENTO PROTETOR" – TP).
O TP tem sido principalmente estudado no contexto de casais que lidam com PROBLEMAS MÉDICOS – nomeadamente, problemas cardíacos e/ou pulmonares, diabetes, diabetes tipo II, transplante de medula óssea, e cancro. Foi descoberto, no entanto, que casais que enfrentam stressores sérios – mas não necessariamente médicos –, tendem também a utilizar esta estratégia com uma certa frequência.
O TP é definido como o esforço, por parte de um dos elementos da díade, de NÃO PERTURBAR o/a parceiro/a ou incomodá-lo/A COM OS SEUS RECEIOS E PREOCUPAÇÕES, de NEGAR ou tentar MINIMIZAR AS PREOCUPAÇÕES do/a(s) parceiro/a(s) ou preocupações com a doença, ou o EVITAR DISCUTIR a doença juntos.
Apesar de a intenção subjacente ao uso dessa estratégia ser a promoção do bem-estar do/a companheiro/a e a sua proteção quanto às preocupações, com o objetivo último de diminuir ou evitar a sua perturbação emocional, o TP tem EFEITOS NEGATIVOS NO BEM-ESTAR INDIVIDUAL E RELACIONAL, tanto para provedores como para recetores.
A não partilha de preocupações ou de informações relacionadas com a doença e a supressão de sentimentos e pensamentos negativos impede ou, pelo menos, DIFICULTA O PROCESSAMENTO COGNITIVO E EMOCIONAL do acontecimento, interferindo negativamente na ADAPTAÇÃO do sujeito a esse mesmo acontecimento.
Paralelamente, para além do impacto negativo dessa estratégia para a pessoa que a utiliza, o TP tem também um impacto psicológico negativo no outro. Por exemplo, se o doente não partilhar as suas preocupações, o companheiro pode acabar por não corresponder às suas expectativas de apoio, NÃO CUMPRINDO O SEU PAPEL DE CUIDADOR, fato que frequentemente conduz a um aumento do seu próprio distress emocional.
Por fim, é importante considerar o impacto negativo que essa estratégia tem na própria relação. Quando um/a parceiro/a numa relação íntima não revela os seus sentimentos e preocupações sobre um acontecimento de vida perturbador, o processo de MANUTENÇÃO DA INTIMIDADE É COMPROMETIDO na medida em que se perde uma oportunidade para que o outro responda de forma empática e responsiva.
Assim, o TP tem sido considerado uma estratégia de COPING DIÁDICO NEGATIVO e um COMPORTAMENTO NEGATIVO DE GESTÃO DIÁDICA DA DOENÇA.
É identificada ainda outra estratégia negativa – a SOBREPROTEÇÃO. Esta relaciona-se com a SUBESTIMAÇÃO DAS CAPACIDADES DO/A DOENTE, resultando usualmente numa AJUDA EXCESSIVA E DESNECESSÁRIA e/ou em tentativas de RESTRIÇÃO DAS ATIVIDADES do/a doente. Esta estratégia é frequentemente utilizada quando os companheiros NÃO SE SENTEM AUTOCONFIANTES NO APOIO dado ou quando sentem que o doente tem dificuldades em lidar com a doença. Alguns estudos têm mostrado que essa estratégia DIMINUI A AUTOEFICÁCIA DO DOENTE, bem como o sentimento de controlo sobre a sua vida e sobre os resultados da doença.
Uma comunicação mais aberta e de apoio – ou seja, ENVOLVIMENTO ATIVO (“active engagement”) – tem sido consistentemente associada a uma saúde mais positiva em sobreviventes e parceiros.
A estratégia de ENVOLVIMENTO ATIVO passa pelo envolvimento do outro nas discussões, por lhe perguntar como se sente, se precisa de ajuda ou informação, pelo uso de métodos construtivos de resolução de problemas, pelo incitamento à partilha de emoções, e pela validação. Essa estratégia tem sido associada a uma MAIOR SATISFAÇÃO CONJUGAL e à MELHORIA DA QUALIDADE DA RELAÇÃO percebida ao longo do curso da doença. Assim, o envolvimento ativo tem sido considerado um tipo de coping diádico positivo, e um comportamento diádico positivo de gestão da doença.
A investigação mostra que enquanto o ENVOLVIMENTO ATIVO se associa positivamente com a SATISFAÇÃO CONJUGAL, o TP e a SOBREPROTEÇÃO correlacionavam-se negativamente.
Para ASSEGURAR UMA BOA COMUNICAÇÃO, importa que ambos: a) escutem com atenção, mantendo contacto visual e demonstrando que se estão a ouvir um ao outro; b) não interrompam o outro; c) clarifiquem o que estão a ouvir, confirmando e resumindo o que ouviram para se certificarem de que está correto; d) falem, mantendo contacto visual direto, ficando atentos às expressões e sinais corporais do cônjuge; e) façam questões abertas para propiciar o diálogo; f) falem somente o necessário e mantenham a atenção do outro; g) quebrem o silêncio para propiciar reflexões ou realçar o que se está a comunicar; e h) evitarem questionar o cônjuge e também porem questões que dificultem a comunicação.
Com estima,
Carlos Marinho
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