Avançar para o conteúdo principal

#13: "ANULAÇÃO" | CONHECER UM MECANISMO DE DEFESA POR DIA... NÃO SABE O BEM QUE LHE FAZIA!


Anulação 

Trata-se este de um processo ativo que consiste em desfazer o que se fez. O sujeito faz uma coisa que, real ou magicamente, é o contrário daquilo que, na realidade ou na imaginação se fez antes.

É conveniente que as representações incómodas, evocadas em atos, pensamentos ou comportamentos da pessoas sejam considerados como não tendo existido. Para isso, a pessoa coloca em jogo outros atos, pensamentos e/ou comportamentos, destinados a apagar 'magicamente' tudo quanto estava ligado às representações geradoras de incómodo.

A anulação ocorre nos atos expiatórios, no animismo, em certas necessidades de verificação e, em geral, em todos os mecanismos obsessivos, onde uma atitude é anulada por uma segunda atitude. Fenichel (2005) defende que a própria ideia de expiação nada mais é do que a expressão da crença na possibilidade de uma anulação mágica.

A anulação pode verificar-se através da compulsão para fazer o contrário do que se fez anteriormente, e também na de repetir o mesmíssimo ato. Fenichel (2005) destaca que o objetivo de repetir consiste em praticar o mesmo ato liberto do seu significado inconsciente, ou com o significado inconsciente contrário. E se ocorre de o material reprimido se insinuar uma outra vez na repetição, a qual visa a expiação, uma terceira, quarta, quinta repetição talvez se faça necessária.

A anulação constitui um mecanismo narcisicamente muito regressivo. Deve operar quando os processos mentais mais clássicos, à base de desinvestimento e de contra-investimento não mais sejam suficientes. A anulação irá incidir sobre a própria realidade, pois é a temporalidade, elemento importante do real, que se acha negada, alterada.   

Conheça o último, amanhã... 


Comentários

Mensagens populares deste blogue

TUDO SOBRE FERIDAS EMOCIONAIS DE INFÂNCIA

FERIDAS EMOCIONAIS DA INFÂNCIA: O QUE SÃO E COMO NOS IMPACTAM?  A Patrícia está sempre a comparar-se aos outros. Acha-se inútil e desinteressante. Tem pouca autoconfiança e uma muito baixa autoestima, desde adolescente. Vive refém do medo de ser abandonada, apega-se em demasia aos amigos e, principalmente, ao seu parceiro. A experiência de ciúmes é constante. Assume que qualquer outra mulher é muito mais bonita e mais cativante do que ela. Não descansa enquanto não souber o que o seu parceiro faz, controla-lhe o telemóvel, persegue-lhe as colegas de trabalho, e acompanha-o em todos os movimentos. " Faço isso para que ele não me troque por outra pessoa " justifica. Ansiedade, angústia, medo e desconfiança tomam conta da sua vida há muito tempo. Mas estas emoções são apenas a ponta do iceberg, e o sintoma de um problema maior, oculto abaixo da linha de água - ali, onde em terapia encontramos as suas  feridas emocionais . [Quando cais e te magoas, podes imediatamente ver a ferid...

O DESAFIO DA (RE)CONEXÃO COM O 'SELF' [MANUAL DE BOLSO - Versão 2024]

... VAZIO? DESÂNIMO? SOLIDÃO? FALTA DE FOCO? ANGÚSTIA? ... ´ Muitas destas queixas são queixas típicas do estado de  crise da subjetividade pessoal. E o que quer isto dizer? Bem, comumente, este estado de crise decorre da falta de investimento na nossa " vida interior " . Quando esta falta de investimento leva ao afastamento e eventual  desconexão com o nosso 'Self' , debilitando-o, é gerado intenso mal-estar. Neste caso, a solução está na libertação do 'Eu reprimido' , ou seja, no processo de individuação   e  emancipação pessoal . Por outro lado, pessoas que estão nos estágios iniciais do processo de emancipação pessoal , e que percebem quão isoladas estão em relação à maioria, poderão também experimentar mal-estar sob a forma destas queixas: acontece que o que faz mover o mundo não as faz mover mais. Aos perceberem de forma mais lúcida a crise da subjetividade atual, sentem-se alienadas da cultura ao seu redor. Neste caso, a solução está na resistência às...

ENTENDER PARA SUPERAR: OS DESAFIOS DO NARCISISMO PATOLÓGICO

SOMOS TODOS/AS NARCISISTAS? Sim!  Comecemos por dizer que o que caracteriza o narcisismo é o  investimento da libido na nossa própria imagem .  Todos/as nós possuímos uma energia vital que pode ser investida tanto nos outros, como na nossa própria imagem - a essa 'energia' chamamos de " libido ". Com efeito, é impossível que pelo menos uma parcela da nossa energia vital não seja investida na nossa própria imagem , por isso dizemos que o narcisismo é uma condição básica da estrutura da subjetividade humana ,  transversal a todos os seres humanos .  Para entendermos as "complicações narcísicas" que podem afetar o nosso comportamento, nomeadamente o que consideramos " narcisismo patológico (ou perverso) ", devemos começar pelo início da vida, e entender a formação do narcisismo desde a sua raiz ...  A VIDA COMEÇA NO PARAÍSO (ou SOBRE O NARCISISMO PRIMÁRIO ): No início da vida, o bebé não percebe ainda a realidade externa , não está ainda capaz de re...