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O DESAFIO DA HABITUAÇÃO SEXUAL | A PROPOSTA DO SEXO TRANSORGÁSMICO

 

O SEXO JÁ NÃO É O QUE ERA” – é uma das queixas mais frequentes em consultório de casal. 

São cada vez menos os casais que conseguem superar com sucesso as chamadas “crises” dos três e sete anos de relação. Uma das PRINCIPAIS CAUSAS DAS SEPARAÇÕES É A FALTA DE DESEJO SEXUAL. Além da deterioração da comunicação emocional, é a HABITUAÇÃO SEXUAL que subjaz a este problema. 

A ‘habituação sexual’ é um condicionamento biológico – presente em quase todas as espécies – que causa a diminuição progressiva do desejo e da excitação sexuais após ter relações sexuais regulares com a mesma pessoa. 

O chamado “efeito Coolidge” ilustra este fenómeno com algum humor. Conta-se que na década de 20, o presidente dos Estados Unidos, Calvin Coolidge e a sua esposa Grace, estavam de visita a uma quinta. Aqui, a Sra. Coolidge apercebeu-se da presença de um galo que fazia constantes investidas sexuais. Surpreendida, perguntou ao encarregado da quinta quantas vezes o animal fazia isso. “Dezenas de vezes ao dia, e todos os dias”, respondeu. Fascinada, Grace pediu ao trabalhador que transmitisse essa informação ao presidente assim que este o visse. Mais tarde, o trabalhador referiu ao político a regularidade com que o galo tinha relações sexuais, e Coolidge perguntou-lhe: “Sempre com a mesma galinha?”. “Não, não” apressou-se o outro a responder “Com galinhas diferentes”. “Diga então isso à Sra. Coolidge” concluiu o presidente. 

Ainda que possa ocorrer com apenas algumas semanas ou meses de sexo regular, a habituação sexual tende a tornar-se mais permanente até aos 2-3 anos de relação. Em grande parte, é devido a ela que A “LUA DE MEL” DURA RARAMENTE MAIS DE UM ANO OU DOIS. A degradação e a diminuição de frequência de intercâmbios eróticos AFETAM não só a SATISFAÇÃO SEXUAIS DO CASAL, mas também condicionam a sua APROXIMAÇÃO EMOCIONAL e HARMONIA RELACIONAL (e.g., aumentam os ressentimentos, instala-se a agressão passiva, e substitui-se o que dantes era agradável por um sentimento de irritação). 

As três formas mais comuns de lidar com esta situação são: a REPRESSÃO, a SUBLIMAÇÃO e o ENGANO. Nenhuma destas ‘estratégias’ é, em última instância, efetiva ou satisfatória. 

A REPRESSÃO SEXUAL pode provocar-nos frustração, deceção, depressão e até gerar agressões contra o/a parceiro/a, muitas vezes identificado/a como uma força opressora das necessidades sexuais. 

A SUBLIMAÇÃO é um meio através do qual as energias sexuais são canalizadas para outros focos ocupacionais (e.g., educação dos filhos, projetos criativos, ações sociais) até poder alcançar-se a prosperidade emocional e espiritual do casal, a longo prazo. Muitas vezes, porém, isto implica um sacrifício da alegria, da regeneração vital e da transcendência da paixão erótica. 

O ENGANO, além de corroer a confiança e a intimidade do casal, tende a conduzir a experiências de culpa, vergonha e sentimentos de fracasso, além da própria rutura relacional. A grande maioria das pessoas adúlteras acaba por ser flagrada, confessando os seus affairs ou apaixonando-se pelos seus amantes e rompendo a relação. 

Como podemos enfrentar esta calcanhar-de-Aquiles das relações íntimas? 

A PROPOSTA DO SEXO TRANSORGÁSMICO:

Além do recurso ao Viagra, à pornografia para casais ou às oficinas de tantra, muitos casais reavivam a sua paixão sexual abrindo a relação a terceiros, ou investindo no SEXO TRANSORGÁSMICO: UM FORMATO DE SEXUALIDADE EM QUE SE MINIMIZA O ORGASMO GENITAL CONVENCIONAL. 

O ORGASMO CATALIZA UMA SÉRIE DE REAÇÕES NEUROQUÍMICAS – condicionadas do ponto de vista evolutivo – que com o passar do tempo conduzem à perda do desejo sexual pelo/a parceiro/a, a encontrar-lhe mais defeitos, e a sentir maior atração por outras pessoas. 

A evolução não parece ter qualquer interesse em que fiquemos com uma parceria sexual por mais tempo do que o estritamente necessário para a procriação – DEPOIS DE UM CERTO TEMPO REGULAR COM UMA MESMA PARCERIA, o orgasmo envia mensagens subconscientes ao nosso programa genético, dizendo-lhe que a TAREFA REPRODUTIVA com esta pessoa já se cumpriu, FAZENDO-NOS PERDER O DESEJO POR ELA e levando a que tenhamos interesse por outras. 

A nossa mente consciente não dá conta deste truque que a química do nosso cérebro primitivo joga e tende a justificar esta perda de atração dizendo-nos coisas como “não é a pessoa adequada para mim” ou “irrita-me quando faz isto ou aquilo”. 

Ainda que durante os dois primeiros anos de relação esta dinâmica seja compensada pela chamada “LUA DE MEL NEUROQUÍMICA”, posta em marcha pela experiência do enamoramento, com o tempo A SEXUALIDADE ORGÁSMICA CONVERTE-SE NUMA BOMBA-RELÓGIO PARA AS RELAÇÕES ÍNTIMAS. 

O tema é controverso – daí o meu interesse em visibilizá-lo e gerar reflexão livre – já que vem sendo exaltado pela sexologia moderna e é um eixo central da libertação sexual da mulher. Além disso, a maioria das pessoas está fortemente condicionada a procurar o orgasmo e a frustrar-se se não o alcança. 

Com o sexo transorgásmico, convido-te a considerar quão enriquecer pode ser libertar os teus encontros sexuais da obsessão pelo orgasmo. Além de REDUZIR A HABITUAÇÃO SEXUAL, o sexo transorgásmico muda-nos o jogo de terreno: livres da ‘suposta meta’, os encontros sexuais tornam-se MAIS EXTENSOS, MAIS CRIATIVOS E TRANSCENDENTES. 

A PRÁTICA DO SEXO TRANSORGÁSMICO:

  • Prepara um espaço inspirador para o encontro sexual (iluminação ténue, música, incenso, etc.);
  • Desnudem-se um/a ao/à outro/a aos poucos, sem pressas, enquanto se abram, se beija e se acariciam;
  • Uma vez desnudos/as (ou com roupa interior que considerem sexy), permitam-se algum tempo de interação prévio ao coito: beijos, pequenas mordeduras, lambidelas, roce entre os corpos, o que quer que vos excite. Os óleos, lubrificantes, ou qualquer outro tipo de parafernália serão bem-vindos;
  • Se praticarem sexo oral, que seja lentamente, sem forçar gestos, e sem estimular de forma demasiadamente intensa ou rápida a zona genital do/a parceiro/a;
  • Quando sentirem que é o momento do coito – e nem todo o encontro sexual tem por que incluí-lo – tentem praticá-lo mais lentamente do que o habitual, saboreando cada sensação. Podem também alternar fases mais lentas com outras mais rápidas, desacelerando o movimento se a energia sexual começar a dirigir-se para o orgasmo convencional;
  • Caso estejam acostumados/as a uma maior intensidade, é normal experimentarem alguma frustração, pelo que a paciência é virtude a praticar-se. Pouco a pouco, com a prática do coito sem orgasmo, a energia sexual começará a circular mais por todo o corpo, carregando-o eroticamente até ao ponto de produzir sensações quase-orgásmicas;
  • Quanto sentirem a pressão do orgasmo genital, poderão gemer ou gritar para mover a energia para cima. Poderão pedir ao/à vosso/a parceiro/a para que vos morda o antebraço ou, se necessário, pararem o coito por completo e descansarem, repousando na cama abraçados/as ou em qualquer outra forma prazenteira de contacto. No caso dos homens, é normal que a ereção possa baixar e voltar depois aquando da retoma do jogo erótico;
  • Se o fizerem separadamente, poderão ajudar a descentrar a energia sexual da vossa própria zona genital, redistribuindo-a pelo corpo com uma automassagem (ou massajando-se mutuamente), espalhando-a da zona genital para as pernas, o abdómen, o peito, a cabeça, os braços. 
  • Quando sentirem a energia mais distribuída, poderão voltar à exploração da relação sexual. Normalmente, CHEGARÁ UM MOMENTO EM QUE A PRESSÃO GENITAL ORGÁSMICA DESAPARECE. Caso não suceda, repitam o procedimento já descrito, as vezes que forem necessárias. 
  • As vossas próprias energias vos dirão quando chegar o momento de finalizar a relação. Poderão acabar abraçados/as ou separados/as. Caso se separem – para respirarem a vossa própria energia – recomendo que mantenham alguma forma de contacto simples, como segurar a mão um/a do/a outro/a. 

APÓS O SEXO TRANSORGÁSMICO TENDEMOS A SENTIR-NOS CHEIOS/AS DE ENERGIA, SACIADOS/AS, EM PAZ, E MUITO CONECTADOS À NOSSA PARCERIA. 

Naturalmente, não há problema se tiverem um orgasmo genital de vez em quando. Em certos momentos, o orgasmo genital pode libertar tensões e alcançar efeitos benéficos. A chave é NÃO FORÇAR O ORGASMO COMO META DO ENCONTRO SEXUAL. Quando praticamos sexo transorgásmico, o orgasmo genital reveste-se de uma QUALIDADE DISTINTA já que, depois de fazer circular a energia vital por todo o corpo, deixa-nos reenergizados/as ao invés de vazios/as ou cansados/as (sobretudo, no caso dos homens). 

Saiba mais em consultório.
Aqui para si.

Com estima,
Carlos Marinho



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