A REVOLUÇÃO MODERNA do género e das relações íntimas está a TRANSFORMAR não só a SEXUALIDADE como também a IDENTIDADE SEXUAL. Uma das mudanças que se vêem observando na identidade sexual masculina é o movimento do ‘MACHO ALFA TRADICIONAL’ e o ‘HOMEM OMEGA’ (não confundir com o chamado ‘macho omega’, de quem se diz carecer de autoestima, iniciativa ou capacidade). O homem omega é uma pessoa confiante, criativa e sexualmente potente que muitas vezes se encontra em posições de liderança, ainda que prefira manter-se nos bastidores e não alardear as suas conquistas ou talentos.
Para diferenciar claramente estes PAPÉIS DE IDENTIDADE SEXUAL, os retratos que a seguir se apresentam são descaradamente essencialistas e não capturam nem a tua experiência nem a da maioria dos homens. Ou seja, ‘ser alfa’ ou ‘ser omega’ não são mutuamente excludentes: enquanto alguns homens ‘são muito alfa’ e outros ‘muito omega’, numerosos homens modernos combinam qualidades alfa e omega de diversas maneiras. Estes são TERMOS PSEUDO-CIENTÍFICOS que aqui são usados com o intuito de providenciar uma grelha de classificação que nos ajude a refletir mais aprofundadamente sobre a identidade sexual dos homens.
Este relato, entenda-se, é deliberadamente polarizador e polémico. Devido aos meus próprios assumidos traços pessoais, descrevo o homem omega de forma muito mais favorável do que o macho alfa. No entanto, pode haver circunstâncias em que as qualidades alfa sejam MAIS APROPRIADAS, por exemplo, a tomada de uma decisão não cooperativa, numa situação que requer uma ação imediata ou inclusivamente algumas iniciativas sexuais e românticas. Ainda que acredite que muitos traços alfa nos domínios relacionais e sexual não sejam construtivos, preferia que se lessem estas reflexões NÃO COMO CRÍTICAS ABSOLUTAS AO ALFA OU UMA DEFESA INCONDICIONAL DO OMEGA. Acredito que muitos homens integrados (atuais e no futuro) poderiam ser moldados por uma COMBINAÇÃO SELETIVA DE QUALIDADES ALFA E OMEGA, assim como ter a capacidade de fluir entre ambos os polos dependendo do que for mais apropriado para cada situação.
MACHOS ALFA:
Procuram dominar os outros através de jogos de poder.
HOMENS OMEGA: Fomentam relações harmoniosas, através de relações de mútuo empoderamento.
MACHOS ALFA:
Nas interações sociais são como o sol: o seu brilho deslumbrante eclipsa a luz
de todas as outras estrelas do céu
HOMENS OMEGA: Nas interações sociais são como a lua: o seu resplendor subtil permita que a beleza de todas as demais estrelas possa ser apreciada.
MACHOS
ALFA: Consolidam a sua confiança
logrando posições de alta hierarquia social/sexual e procurando a constante
aprovação dos outros.
HOMENS OMEGA: São
pessoas seguras que não aceitam as hierarquias sociais/sexuais, nem precisam do
reconhecimento social para se validarem.
MACHOS ALFA: Acreditam ter sempre razão e quase nunca se desculpam ou aceitam ter cometido um erro.
HOMENS OMEGA:
Pedem desculpas sinceras quando agem de forma inadequada, e expressam gratidão
quando se lhes mostra estarem enganados.
MACHOS ALFA: Tratam os/as companheiros/as como propriedade pessoal.
HOMENS OMEGA:
Tratam os/as companheiros/as como pessoas livres, com o direito e o poder de se
relacionarem socialmente sem ter de dar satisfações à sua parceria romântica.
MACHOS ALFA: Se heterossexuais, tendem a ser homofóbicos, falam e atuam de forma a não deixar dúvidas em relação à sua orientação sexual.
HOMENS OMEGA:
Não se sentem ameaçados nem discriminam acerca de outras orientações sexuais.
Podem ser bissexuais, homossexuais, pansexuais, etc.
MACHOS ALFA: Se são monogâmicos tendem a vigiar a parceria, sentindo-se enciumados e incomodados com as amizades do/a companheiro/a, que tendem a perceber como rivais.
HOMENS OMEGA: Se
são monogâmicos, apoiam as interações autónomas do/a companheiro/a dentro de
uma clima de confiança mútua, assim como amizades e até conexões afetivas com
outros homens/mulheres.
MACHOS ALFA: Se são poliamorosos usam a retórica poli para construir um harém cujo contacto íntimo com outras pessoas tendem a monitorizar (masculinidade poli-hegemónica)
HOMENS OMEGA:
Se são poliamorosos, respeitam a autonomia e a liberdade dos/as
companheiros/as, são só tolerando como apoiando e celebrando as suas conexões
afetivo-sexuais com outras pessoas.
MACHOS ALFA: Se traem, tendem a sentir-se no pleno direito de fazê-lo, aplicando o duplo standard patriarcal que proíbe/condena a mesma conduta nas mulheres.
HOMENS OMEGA:
Não tendem a trair, seja por compromisso com a exclusividade sexual ou porque entendem
que teriam de dizê-lo aos/às companheiros/as e aceitar que estes/as
exercitassem o mesmo direito.
MACHO ALFA: No terreno sexual, são potentes desde uma força que domina, degrada ou inclusive «viola» energeticamente a outra pessoa, podendo causar-lhe bloqueios ou conflitos internos.
HOMENS OMEGA:
No terreno sexual, são potentes desde uma força que oferece uma presença
respeitadora e segura, permitindo à outra pessoa entregar-se ao prazer sexual e
receber a sua energia sem medos ou conflitos.
MACHOS ALFA: Abordam os encontros sexuais como conquistas dirigidas a aumentar a sua confiança, prazer egocêntrico e para "caçar"; dar prazer sexual é essencial e tendem a deprimir se a sua potência ou o seu talento sexual for questionado.
HOMENS OMEGA:
Abordam as interações sexuais como encontros criativos com o Outro, onde a
energia erótica flui espontaneamente através e entre ambos.
MACHOS ALFA: Sentem que a ereção é imprescindível e consideram automaticamente um "fracasso" a falta de excitação fálica durante o sexo.
HOMENS OMEGA:
Confiam plenamente nos seus corpos, apreciando as muitas formas de conexão
apaixonadas e ternas que podem emergir tanto com um pénis ereto como com um
pénis flácido.
MACHOS ALFA: Mostram uma sexualidade centrada nos genitais onde a penetração e o orgasmo são essenciais.
HOMENS OMEGA:
Gozam de uma sexualidade centrada em todo o corpo, que pode tomar muitas
formas, incluindo o sexo livre da compulsão para o orgasmo.
MACHOS ALFA: O pénis é, para eles, um símbolo de virilidade e poder patriarcal sobre os demais.
HOMENS OMEGA: O
pénis é, para eles, um órgão de fertilidade (biológica e energética) e poder
prazenteiro partilhado.
MACHOS ALFA: Auto-identificam-se com ter um órgão sexual 'grande' e não perdem oportunidade de vangloriar-se da sua dotação.
HOMENS OMEGA:
Têm órgãos sexuais de diversos tamanhos e entendem que, excetuando casos
extremos que impeçam a practicalidade da penetração, o tamanho não é relevante.
Não são raros os homens que reivindicam para si o status de alfa. Na infância, quando choramos, a indicação não se detém apenas num “Pára de chorar”; prossegue para um: “Pára de chorar, és um homem, sê forte”. É aqui que a ILUSÃO DO SUPER-HOMEM começa a tomar forma. Além de se perder a sensibilidade para a vida, perdemos também o sentido de VULNERABILIDADE. Se nos dizem constantemente que somos fortes – por que motivo, na vida adulta, haveríamos de cuidar da nossa saúde, mental ou física, ou porque haveríamos de preservar a nossa vida? “Sou um homem, não preciso de ir ao médico: é uma dor pequena, eu aguento”, “O meu filho é homem, não tem problemas, não precisa de psicólogos para nada”, “Estou triste, mas sou homem. Não é depressão – isso é coisa de mulher”. Sustentar semelhante ilusões tem custado muito caro aos homens.
Quando se procura sustentar o papel de macho alfa – invulnerável, omnipotente e sempre em controlo – está-se meramente a cobrir a subjetividade humana com A MÁSCARA DE UMA IDEALIZAÇÃO TÓXICA. Pois que os homens não são invulneráveis, não são omnipotentes, não estão sempre em controlo: choram, são amorosos, gentis, empáticos e sensíveis; falham e adoecem, nem sempre são fortes. Reprimir este funcionamento é negar a própria matéria de que se é feito. E quem se reprime acaba – mais tarde ou mais cedo – por ADOECER DE INFELICIDADE.
A saga dos machos alfa está fora de moda. Atingir essa idealização, essa fantasia perfeccionista, é para amadores – o real desafio é abraçar a própria autenticidade. Esse é o NOVO CÓDIGO DE ENTRADA no CLUBE DA MASCULINIDADE. O império dos homens omega vem renovar o que há de desatualizado e problemático nas arcaicas conceções de masculinidade, propondo um modelo que acolha o entendimento de que ser-se vulnerável não é desvalor ou fraqueza de caráter, pontuando a importância de identificar as próprias emoções, de expressá-las, de conseguir falar sobre os seus próprios problemas, de lidar com as suas frustrações, cuidar da sua saúde, amar e ser amado, abraçando todas as qualidades humanas, independentemente do género que se lhes queira atribuir.
Ser um homem diante do qual um filho se espelhe, não pela postura de herói machista, mas pela confiança de poder contar-lhe os problemas que enfrente, de expressar as suas necessidades afetivas, de dizer “eu amo-te”. Muitos homens têm dificuldade em perceber que a relação com o pai, não raro distante e conflitiva, é atravessada pelo mesmo machismo que eles defendem – e lutam, em sofrimento, até ao fim de uma vida para não assumirem o tanto que gostariam de ouvir um “eu amo-te” do pai.
Combater a ideologia machista hoje significa questionar estereótipos e afirmar a igualdade de género no âmbito cultural e social com uma nova construção de ser ‘macho alfa’. Abram alas aos homens omega.
A forma como as pessoas percebem a realidade influencia o modo como se sentem e agem, da mesma maneira que a forma como se comportam influencia a modo de viverem sentimentos e pensamentos. Estas perceções da realidade são as crenças mais centrais que temos (crenças nucleares). São ideias sobre nós próprios/as, sobre os outros, e sobre o mundo, que se desenvolvem desde cedo e que, portanto, se tornam compreensões duradouras, fundamentais e profundas, sendo consideradas verdades absolutas.
As crenças sexuais são um conjunto de ideias relacionadas com a sexualidade que cada pessoa vai construindo ao longo da vida, refletindo-se no seu funcionamento sexual. Nem sempre, porém, se tem consciência delas.
Com muita frequência, AS DIFICULDADES SEXUAIS ESTÃO ASSOCIADAS A CRENÇAS IRREAIS E DISFUNCIONAIS SOBRE A EXPRESSÃO DA SEXUALIDADE. Estudos envolvendo amostras masculinas apontam para a tendência global dos sujeitos com dificuldades sexuais reportarem níveis mais elevados na generalidade das dimensões das crenças disfuncionais, muito em particular a crença do “macho alfa”.
No número destas crenças disfuncionais contam-se: “UM HOMEM ESTÁ SEMPRE INTERESSADO E PRONTO PARA O SEXO“, “UM VERDADEIRO HOMEM É SEXUALMENTE FUNCIONAL“, “O SEXO CENTRA-SE NUM PÉNIS RIJO E O QUE COM ELE SE FAZ“, “SEXO EQUIVALE A PENETRAÇÃO“, “UM VERDADEIRO HOMEM TEM RELAÇÕES SEXUAIS COM MUITA FREQUÊNCIA”, “OS HOMENS DEVEM SER CAPAZES DE MANTER O PÉNIS ERETO ATÉ AO FIM”, bem como crenças erróneas sobre a satisfação sexual feminina (e.g. “UM HOMEM QUE NÃO É CAPAZ DE PENETRAR UMA MULHER NÃO A SATISFAZ”, “UM HOMEM QUE NÃO SATISFAÇA SEXUALMENTE A MULHER É UM FRACASSADO”.
Um homem que possua este conjunto de crenças erróneas acerca da sexualidade, é mais suscetível de desenvolver ideias catastróficas acerca das consequências de um eventual insucesso sexual. Perante estas situações, homens com crenças elevadas nos mitos acima descritos desenvolvem habitualmente ideias negativas acerca de si próprios: “SOU MENOS DO QUE UM HOMEM“, “SOU UM FRACASSO SEXUAL“, “JAMAIS CONSEGUIREI RESOLVER ESTE PROBLEMA“. Estas crenças e consequentes autoconceitos negativos não só predispõem estes homens para o desenvolvimento de dificuldades sexuais, como desempenham um papel central na manutenção do problema.
Numa obra dedicada às dificuldades orgásmicas, Heiman e LoPiccolo (1988), indicam um conjunto de mitos sexuais típicos de mulheres com disfunção sexual. Os mitos propostos não só integram crenças relativas ao conservadorismo sexual feminino: “MULHERES COM RESPEITO NÃO SE EXCITAM COM MATERIAL ERÓTICO“, “MULHERES FEMININAS NÃO INICIAM ATIVIDADE SEXUAL“, “O ORGASMO VAGINAL É MAIS FEMININO E MADURO DO QUE O ORGASMO CLITORIDIANO“; como incluem dimensões de mitos relacionados com o papel da idade e beleza física na atividade sexual: “O SEXO É SÓ PARA MULHERES COM MENOS DE TRINTA ANOS“, “A VIDA SEXUAL DA MULHER ACABA COM A MENOPAUSA“; e crenças relativas a exigências de desempenho: “UMA MULHER NORMAL ATINGE O ORGASMO SEMPRE QUE TEM UMA RELAÇÃO SEXUAL“, “TODAS AS MULHERES SÃO CAPAZES DE TER MÚLTIPLOS ORGASMOS“, “UMA MULHER FUNCIONAL CONSEGUE SEMPRE EXCITAR-SE COM O SEU PARCEIRO SEXUAL“, “ALGO ESTÁ ERRADO QUANDO UMA MULHER NÃO CONSEGUE TER UM ORGASMO RÁPIDA E FACILMENTE”.
Numa investigação conduzida por Nobre e colaboradores (2003), com uma amostra portuguesa, foi possível perceber que mulheres com disfunção sexual apresentam pontuação mais elevada no total da escala de crenças disfuncionais, assim como apresentam mais crenças relacionadas com o papel da idade e com a importância da imagem corporal e beleza física no funcionamento sexual. De uma forma geral, AS MULHERES DISFUNCIONAIS CREEM QUE O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO, SOBRETUDO PÓS-MENOPAUSA, IMPLICA UM DECRÉSCIMO DO DESEJO E PRAZER SEXUAL.
Relativamente à população masculina, Nobre e colaboradores (2003), realçam também o facto de os homens disfuncionais terem apresentado pontuações mais elevadas em todas as crenças avaliadas. Em particular, A CRENÇA NO MITO DO “MACHO LATINO” E AS CRENÇAS INADEQUADAS FACE À SATISFAÇÃO SEXUAL FEMININA, CONTRIBUÍRAM PARA DISCRIMINAR OS HOMENS FUNCIONAIS DOS DISFUNCIONAIS.
De uma forma geral, é possível perceber que a crença em mitos sexuais erróneos pode estar na base do desenvolvimento de disfunções sexuais, quando o homem ou mulher se deparam perante um insucesso sexual. A desmistificação de alguns destes mitos tem um papel primordial para a manutenção de uma vida sexual saudável.
Aqui para si.
Carlos Marinho
Comentários
Enviar um comentário