Em
pequeninos não se calam. Falam na escola, falam em casa, falam no meio da rua,
alternando entre o eufórico e o ofendido enquanto contam como o João Pedro os
ajudou a marcar um golo, ou a Joana lhes deu metade do lanche, ou a professora
disse não sei quê e não sei quê porque não sei quê. De repente, chegados à
adolescência, calam-se. Fecham a porta do quarto, ficam a sós computador e
nunca mais ninguém os vê. Os pais desesperam. Afinal, até se esforçam por ser
bons pais. Até lhes perguntam como é que correu a escola. Até se esforçam por
conversar, como mandam todas as revistas. Em pequeninos, o silêncio, pouco
comum numa criança faladora, é de desconfiar. Mas quando chegam à adolescência
é natural que falem menos, porque esta é a altura em que andam ocupados a
construir um mundo privado. Não é sinal de 'falta de chá' mas do início da
preparação para a independência. Respeite a sua reserva: eles estão a dizer-lhe
que os pais não podem, nem devem, saber tudo da vida dos filhos, e é preciso
saber aceitar esses outros mundos a que não temos acesso.
Por outro lado, é uma altura em que, paradoxalmente, eles precisam ainda mais dos pais do que em fases anteriores e podem simplesmente não saber como começar a falar do que os preocupa. E, muitas vezes, os pais não querem de facto conversar: querem 'investigar' aquilo que se passa para depois poderem controlar os filhos. Acontece que isso não é conversar: é uma investigação policial, e eles percebem isso à légua.
NUNCA É TARDE PARA CONVERSAR:
1. Limite o computador: Sempre que possível, e conveniente (sobretudo para não invalidar os interesses do seu filho), incentive-o a dar uma volta, praticar desporto, cumprir tarefas domésticas, desenvolver algum projeto artístico],
2. Não lhe fale só da escola: Muitas vezes, os nossos filhos furtam-se a falar connosco porque, basicamente, a nossa conversa não tem qualquer interesse: parece que tudo na vida deles se resume a serem alunos. Se só lhes falamos para perguntar como foi a escola, se já fizeram os trabalhos e se já conseguiram subir a nota a Matemática, não é de espantar que não haja muitos candidatos ao debate. Pode começar as 'hostilidades' de forma mais original: 'Conta-me qualquer coisa boa do teu dia', por exemplo;
3. Crie ocasiões: A conversa é como um motor (ou, enfim, como um
motor dos antigos): precisa de tempo para aquecer. Não é de repente que se cria
a intimidade necessária para falar, não é de súbito que se diz 'vamos
conversar'. Por isso é preciso criar espaço para ela: saiam juntos, para
passear, jantar, incorrerem atividades, etc.;
4. Não bloqueie: Ouça mais do que fale, mesmo que não goste do que
ele lhe está a tentar dizer. Uma conversa é um diálogo, não um monólogo. Não
tem de concordar com tudo, mas saber ouvir e valorizar as suas opiniões;
6. Namore os seus filhos: Fala-se muito de não deixar um casamento cair na rotina, mas fartamo-nos de deixar cair na rotina as nossas crianças, e nem sequer damos por isso. Qual foi a última vez que saiu a sós com ela sem ser para a levar ou trazer da escola? Qual foi a última vez que deram uma volta ao quarteirão os dois sozinhos, sem irmãos, sem primos, sem stresse, sem ser para irem a casa de alguém ou buscar pão ao supermercado? Talvez já tenha ido a um restaurante caro com o seu marido, mas quando é que levou lá o seu filho? Pois, não vale a pena porque eles depois dizem que não gostam de nada do que lá há? Mas se nunca forem, nunca se irão habituar. Criem o «Dia Único».
Com estima,
Carlos Marinho
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