1) Ajudar os filhos a lidarem com as emoções dolorosas: Crianças e adolescentes que se recusam a aceitar a decisão tomada pelos pais podem vir a apresentar problemas comportamentais e emocionais: comportamentos disruptivos para com os progenitores, comportamentos agressivos para com os pares e outras figuras de autoridade, desinvestimento escolar, perda de interesse generalizada e somatização (apresentarem sintomas sem nenhuma causa orgânica/física). É importante que perante estes comportamentos cada um dos progenitores verbalize afirmações empáticas, ao invés de colocar questões. Por exemplo, usar frases como “Vejo que te sentes revoltado, que tiveste um dia mau. Talvez devido à minha separação [do teu pai/da tua mãe]. Há dias em que também me sinto assim, e depois tento acalmar-me e ver as coisas por outra perspetiva”. Ao invés de questões e acusações como “Mas porque te comportas tão mal na escola? O que é que te deu agora? Porque é que andas tão implicativo? Estás com dor de barriga outra vez? É para não teres de ir à escola, não é?”.
2) Promover o crescimento saudável dos filhos: Os progenitores devem promover o crescimento saudável dos filhos. Para isso, a manutenção das rotinas diárias principais é essencial. Por exemplo, se uma criança em idade pré-escolar frequenta o infantário deverá continuar a fazê-lo regularmente mesmo que o progenitor com quem vive passe muito tempo em casa após a separação. O facto do progenitor se sentir sozinho ou anémico para as tarefas diárias de vestir, alimentar e dar banho à criança não pode invalidar a assiduidade da criança no infantário e a convivência dela com os colegas e educadores. Outras rotinas a assegurar remetem para a uniformidade das tarefas diárias entre as casas dos dois progenitores (e.g. a hora de acordar e de ir para a cama, as horas das refeições e os cuidados com uma alimentação saudável) e dos limites e regras de comportamento de modo a que os progenitores possam potenciar o desenvolvimento adequado dos filhos.
3) Ter tempo para fortalecer a relação com os filhos: Uma das implicações positivas do divórcio é o facto de cada progenitor ter a possibilidade de voltar a investir mais em si e na relação com os seus filhos. Nesse sentido, os progenitores podem aproveitar esta nova realidade familiar para fortalecerem os laços e a relação com a criança/jovem. Cada progenitor deverá envolver-se nas atividades, interesses, jogos e brincadeiras das crianças mais novas bem como convidá-las para atividades da preferência do adulto (convite normalmente aceite com agrado). É importante que os pais passem tempo de qualidade com os seus filhos para os conhecerem na sua plenitude e darem-se a conhecer. Conversar à hora das refeições invés de comerem a olhar para a televisão ligada, sair e passear, jogar jogos, estudarem juntos, são atividades a incorrer.
4) Não fomentar nos filhos a esperança da reconciliação dos pais: Os filhos que fantasiam durante anos com a reconciliação dos pais ficam impedidos de viver a verdadeira realidade das suas vidas e de avançarem no seu projeto de vida. Para evitar tais obstáculos ao seu desenvolvimento é necessário que os filhos recebam por parte dos pais, de forma clara e explícita, a explicação de que a decisão de separação/divórcio é definitiva e de que os filhos, nada podem fazer para a alterar.
APOIAR-SE A SI PRÓPRIO/A:
1) Apoiar-se a si próprio/a: Os adultos podem também apresentar alguma fragilidade psicológica pelo que podem ter maiores dificuldades em cuidar e apoiar os filhos, de onde a necessidade de cuidarem de si próprios. O apoio social dos familiares e amigos mais próximos pode ser uma ferramenta útil neste processo. Por vezes, o apoio profissional especializado pode também ser necessário. Em momento algum, a criança deve ser usada como forma de apoio pessoal.
2) Estar atento à manifestação de sintomas específicos: O estado civil muda mas os afetos permanecem por mais algum tempo, ou seja, o 'divórcio emocional' (a rutura emocional completa) não ocorre em simultâneo com o divórcio civil. Os progenitores devem permitir-se a si próprios sentir todas as emoções, por mais difíceis e negativas que sejam. Ao realizarem o processo de luto sobre a relação conjugal ficarão emocional e psicologicamente melhor preparados para o futuro e, em paralelo, para apoiarem os filhos. Durante o processo de luto da relação conjugal, os progenitores não devem deixar de zelar pela sua alimentação e descanso, ou seja, pela sua saúde física. Precisam de energia anímica mas também física para cuidarem dos seus filhos, sobretudo quando estes são pequenos e precisam de ajuda na maior parte das tarefas diárias.
3) Não direcionar as emoções para os filhos: Os filhos não devem ser forçados a crescer rapidamente após a separação dos progenitores. Os adultos devem viver as suas emoções negativas e dolorosas sem colocar como substituto do outro progenitor os próprios filhos. Frequentemente, os progenitores após a separação conjugal permitem que a criança/jovem passe a dormir consigo. Por vezes, incentivam mesmo tal comportamento argumentando que será algo pontual ou esporádico. Porém, em muitos casos esse comportamento acaba por se tornar permanente, promovendo a dependência mútua entre progenitor e criança/jovem. Uma das possibilidades para os progenitores vivenciarem as próprias emoções sem sobrecarregarem ou prejudicarem os seus filhos é através da promoção das relações sociais com os familiares, amigos e colegas. Desabafar com os seus pares as dificuldades diárias que enfrenta pode ser para o progenitor uma fonte de alívio e de apoio social (sentir-se ouvido, compreendido e aceite na sua fragilidade atual) pelo que deve ser incentivada. Uma outra estratégia eficaz remete para a ocupação dos tempos livres pelo que pode ser útil incentivar os progenitores para a prática de exercício físico (desde uma simples caminhada àprática regular de um desporto), a leitura de livros de autoajuda, o recurso a música relaxante, a meditação. Ao ocuparem de forma útil e saudável o seu tempo, os progenitores deixarão de se centrar exclusivamente nas emoções negativas e preocupações evitando, dessa mesma forma, sobrecarregar os amigos com os seus desabafos, eventualmente mais negativistas nesta fase.
4) Refletir sobre o passado para melhorar o futuro: A questão crucial que as pessoas que enfrentam um divórcio pretendem responder com o tempo é: “O que é que o divórcio resolveu ou não resolveu para mim?”. É por isso benéfico que os adultos em processo de separação/divórcio consigam identificar as vantagens pessoais que retiram do novo estado civil (e.g. poderem agradar a si próprios, poderem investir nas próprias vontades e desejos, implementarem as suas próprias decisões, terem mais tempo para si e para os seus objetivos pessoais). De igual modo, é importante identificarem as consequências negativas do recente estado civil (sentirem-se sozinhos, verem as despesas familiares a aumentar) e para cada consequência negativa o progenitor deverá listar as possíveis respostas ao seu alcance e que poderá implementar (e.g. receber familiares e amigos em casa para diminuir a sua solidão; arranjar um trabalho extra para as dificuldades financeiras que surgem após um divórcio. Com a separação/divórcio é importante que cada adulto consiga investir em si enquanto pessoa, definindo para o seu projeto de vida objetivos individuais (que só dependem de si para serem alcançados) e possa desinvestir da imagem ou da definição que atribuía a si próprio enquanto “metade de um par”.
5) Não se pressionar para ultrapassar rapidamente a dor derivada do processo de divórcio: O divórcio é um processo longo e emocionalmente inconstante que exige muito tempo para ser superado. As emoções associadas à rutura conjugal podem ser vividas como ondas: há dias bons em que o progenitor se sente mais forte e preparado para enfrentar a realidade e há dias em que tudo volta a parecer um pesadelo e a vontade de sair da cama ou de casa é muito pouca ou, até mesmo, inexistente.
LIDAR COM O OUTRO PROGENITOR:
1) Respeitar o/a ex-cônjuge, sempre: É comum, após uma situação de divórcio, cada progenitor destacar os defeitos do ex-cônjuge. Consequentemente, torna-se necessário lembrar cada um dos progenitores que por mais defeitos que o outro tenha, será sempre o pai/a mãe dos seus filhos.A forma como cada progenitor se relaciona com o outro pode influenciar a forma como as crianças/jovens percecionam e lidam com o sexo oposto. Por isso mesmo, evite críticas e censuras. Cultivar uma “relação cordial” com o ex-cônjuge é necessário para responder devidamente às necessidades dos filhos.
2) Não discutir em frente aos filhos: Os filhos que assistem frequentemente a conflitos e discussões intensas entre os progenitores têm mais dificuldades em aceitar e superar o divórcio deles e maior probabilidade de vir a apresentar comportamentos problemáticos ou problemas emocionais. Os filhos podem não impedir os pais de se separarem mas podem crescer e preparar-se de forma saudável para a vida adulta se os seus progenitores conseguirem manter só entre si os conflitos e discussões. Os progenitores devem lembrar-se de que a forma como os filhos vêem os pais a lidarem com problemas (discussões) e a relacionarem-se com o outro será depois repetida por eles nas relações que vierem a ter e nas dificuldades que vierem a enfrentar.
3) Proteger os filhos dos comentários negativos sobre o outro progenitor: Os progenitores devem realizar todos os esforços necessários para que os filhos não presenciem os elementos da família alargada (os avôs, os primos e tios) a criticarem negativamente o outro progenitor. Devem, igualmente, promover o contacto da criança com a família alargada do outroprogenitor (sobretudo, com os membros com quem havia convivência regular quando ambos os progenitores viviam juntos). A família alargada não deve desaparecer com o divórcio dos pais. Para a criança/jovem é importante manter o contacto com aqueles que lhe são significativos pois pode ajudar no processo de recuperação e de adaptação à nova realidade e dinâmica familiar. Por outro lado, sujeitar os filhos a comentários negativos sobre o outro progenitor por parte de familiares adultos só irá causar sofrimento e aumentar a incompreensão e revolta no processo de adaptação à nova tipologia familiar.
4) Não forçar os filhos a escolher entre os progenitores: Os filhos devem ser assegurados de que o melhor é amarem ambos os progenitores. Quando os pais se separam o melhor presente que podem dar aos seus filhos é a mensagem de que não há qualquer problema em amarem e serem próximos de cada um dos progenitores.
5) Não usar os filhos para atacar o outro progenitor: Os filhos não devem ser usados por nenhum dos progenitores como meio de vingança para com o outro progenitor, pelo que o cumprimento ou incumprimento da pensão de alimentos, da regularidade e dos horários das visitas devem ser assuntos resolvidos entre os progenitores, sem o envolvimento direto dos filhos. De igual modo, os progenitores não devem usar os filhos como mensageiros (“Diz ao teu pai que eu disse...”, “Pergunta à tua mãe se...”) nem questioná-los para saber o que se passa na vida do outro progenitor (“No fim de semana quem esteve contigo em casa de [outro progenitor]?”). As crianças muito novas podem não se aperceber do pretendido e responder facilmente (mas, por vezes, de forma incorreta) às questões. Os adolescentes podem sentir-se usados no meio de uma guerra que não é deles, o que consequentemente pode aumentar os seus sentimentos de revolta e frustração. Do mesmo modo, aquando as visitas ao progenitor sem a guarda ou que não vive com os filhos, a entrega da criança/jovem deve ser feita com naturalidade e harmonia. Sempre que possível deve-se recorrer a um local público (parque, café) de modo a que a criança não se sinta disputada e partilhada como um simples 'objeto'. Tais sentimentos podem surgir por exemplo nos casos em que a criança é entregue na beira da estrada, saindo de um carro e entrando no carro do outro progenitor.
6) Regularizar e cumprir as visitas – a relação parental não se paga, não se compra: É importante que ambos definam a regularidade e o horário das visitas do progenitor que não está com os filhos diariamente (por exemplo, todos os fins de semana, quinzenalmente aos fins de semana, um dia específico da semana para ir buscar os filhos à escola...). Os filhos sentem-se mais seguros por saber quando irão estar com o outro progenitor e qual otempo que a visita irá durar pois esta informação confere estrutura e conforto.Aquando as visitas, é importante que esse progenitor cumpra as suas promessas, mantenha a regularidade das visitas e seja pontual. De igual modo, o progenitor que vive diariamente com os filhos deve manter a regularidade das visitas do outro progenitor e estar no local combinado à hora marcada.
ADAPTAÇÃO A UMA NOVA FAMÍLIA:
1) A entrada de um novo adulto em casa deve ser gradual: Quando os progenitores conhecem novos adultos (possíveis parceiros) têm, por vezes, de ser instruídos a introduzi-los com calma e tempo na vida dos filhos. Situações em que adultos entram e saem rapidamente da vida da criança/jovem podem ser vividas como uma nova perda, pelo que devem ser evitadas. À medida que o progenitor for reconhecendo e valorizando a nova relação como significativa e duradoura deverá fazer uma transição calma e gradual junto dos filhos informando-os do que pretende para a sua vida e daquilo que é o seu objetivo pessoal em termos relacionais ou amorosos.
2) Esclarecer os filhos sobre o novo casamento: É natural que algumas crianças se oponham a novos casamentos dos progenitores e receiem tal situação por diferentes motivos. Um deles refere-se à dúvida que os filhos têm sobre o outro progenitor interpretar as emoções positivas (aceitação, apreço) que tenham para com o padrasto/madrasta, como traição ou ciúme levando esse progenitor a ficar zangado, desiludido ou mesmo a gostar menos dos filhos por se considerar substituído pelo novo adulto. Quando estas dúvidas sobre lealdade surgem, os filhos optam por se manterem fiéis ao progenitor e abdicar de uma relação calorosa e afetuosa com o padrasto/madrasta, o que é prejudicial à convivência entre todos e ao bem-estar da criança/jovem. Um outro motivo remete para o receio de voltar a perder um adulto significativo se a relação não der certo e de se repetir o passado: um adulto sair de casa. Para evitar uma nova desilusão as crianças e os jovens mantêm-se distantes e fechados na sua própria concha. Um terceiro motivo remete para o terminar da fantasia dos filhos em ver um dia novamente os pais juntos, o que os pode levar a serem mais agressivos e rudes para com o padrasto/madrasta. Nestes casos, o progenitor não deve permitir que a criança vitimize o seu novo companheiro(a). O novo casal deve permanecer unido nas decisões para assegurar que a nova família não quebra em função dos receios maioritariamente infundamentados dos filhos.
3) Facilitar a adaptação às novas mudanças: É essencial que o progenitor vá informando os filhos, com antecedência suficiente, dos passos que antecipa dar na relação com o novo companheiro(a) para facilitar o ajustamento comportamental e a integração da informação transmitida. De referir que são necessários, habitualmente, entre três a seis anos para estabilizar o novo casamento e para os elementos da família aceitarem e ajustarem-se às várias mudanças subjacentes.
4) Permitir ao padrasto/à madrasta um papel educador: O padrasto/madrasta não substitui o progenitor biológico mas pode vir a ter papéis que eram anteriormente desempenhados por este último e contribuir positivamente para o processo de desenvolvimento da criança/jovem.É importante que o padrasto/madrasta tente estabelecer primeiro uma relação de confiança com a criança/jovem para evitar a luta do poder e controlo. Mostrar um interesse genuíno em conhecer os enteados, os interesses e gostos destes, em ouvi-los, mostrar-se disponível para responder às questões que eles queiram fazer são estratégias viáveis para tal fim. Não se deve forçar a relação com a criança/jovem mas antes dar tempo para que esta cresça e se solidifique. Tal como as relações entre adultos, as relações entre um adulto e enteados levam tempo para cristalizar. É também essencial que a criança/jovem não se sinta pressionada pelo progenitor para amar o padrasto/a madrasta. Por sua vez, o progenitor deve respeitar e incentivar o companheiro a ter um papel ativo (e positivo) no processo de desenvolvimento da criança. Como adulto integrante do agregado familiar, o padrasto/madrasta assume um papel de cuidador e por isso não lhe deverá ser retirada a sua função educativa.
5) Lidar com meios-irmãos e irmãos por afinidade: Quando há irmãos por afinidade, por vezes, da mesma idade ou quando nascem meios-irmãos, fruto do novo casamento do progenitor, a criança/jovem pode disputar pela atenção deste através de comportamentos problemáticos como birras, amuos, dependência excessiva do progenitor, regressão comportamental, conflitos e competição com as outras crianças em casa. Para evitar este tipo de problemas é importante que ambos os adultos tratem de igual modo todas as crianças com quem vivem, independentemente dos laços de sangue. Esta igualdade na distribuição dos afetos é fundamental para o equilíbrio familiar.
Aqui para ajudar, Carlos Marinho
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