Avançar para o conteúdo principal

A MENTE MENTE? | COMPREENDER O TRIÂNGULO DO NOSSO FUNCIONAMENTO COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

Pensamentos, comportamentos e emoções são interdependentes: modificando um, os outros alteram-se de forma automática. A dica é: dos três, pensamentos e comportamentos são os únicos que podemos voluntariamente modificar – pois que ninguém controla a emergência das emoções: só a forma de nos pontuarmos em relação a elas.

Sempre que um pensamento trouxer uma emoção negativa, é possível que se trate de um pensamento distorcido e terá relação direta com o comportamento que incorremos. A verdade é que nem tudo o que nos passa pela cabeça corresponde, de forma fidedigna, à realidade. Podemos acolher um pensamento negativo como: “ninguém gosta de mim” (provavelmente não saberíamos se todas as pessoas gostam ou não de nós – apenas o presumimos como verdade, e aqui temos uma distorção cognitiva).

 

Este pensamento irá gerar uma emoção negativa (possivelmente tristeza ou ressentimento de algum tipo). E a partir daqui, tomamos a decisão de não comparecermos à festa para a qual fomos convidados/as. Por seu turno, o isolamento afastar-nos-á dos demais, fazendo com que percamos boas oportunidades e nos penalizemos por isso, acionando assim outro ciclo vicioso.

 

Que fazer? Avaliar estes pensamentos. Quando avaliamos a forma como interpretamos a realidade, temos a possibilidade de mudar as nossas reações emocionais e comportamentais frente às situações, proporcionando a regulação emocional e o envolvimento em comportamentos mais adaptativos. Além disso, o uso regular da identificação e avaliação dos pensamentos negativos promove a flexibilidade cognitiva.


Existem maneiras diferentes de avaliar os pensamentos automáticos:

 

1) Questionar apenas as evidências:

- Que evidências apoiam o meu pensamento?

- Que evidências não apoiam o meu pensamento?

- De acordo com as evidências qual é o meu novo pensamento?

 

2) Reatribuição: trata-se de considerar as diversas explicações do ‘porquê’ de uma situação, ao invés de nos focarmos exclusiva (e incorretamente) na ideia de que há algo de errado conosco. Existem outras explicações para essa infeliz situação? Se sim, quais são elas?

 

3) Diálogo Socrático: para pensamentos catastróficos ou pensamentos relacionados ao futuro, onde há dificuldade para tolerar a incerteza, coloca-se o desafio do chamado ‘diálogo socrático’:

- Qual o pior resultado que poderia obter nesta situação?

- Como posso proceder caso o pior resultado ocorra?

- Que pessoas poderiam ajudar-me a lidar com esta adversidade?

- O que poderia utilizar para ajudar a superá-la?

- Já passou por situações semelhantes no passado? Como as enfrentou?

- Que recursos internos e externos utilizou que lhe tenham sido úteis?

- Conhece pessoas que já passaram por essa adversidade? Como lidaram elas com a situação?

- O que diria a um/a amigo/a que estivesse na mesma situação?

- Quantas vezes passou por uma situação que inicialmente considerou catastrófica? E quantas vezes ocorreu efetivamente uma catástrofe?

 

Estima-se que uma pessoa tenha de 40 a 60 mil pensamentos por dia. A maioria das situações com as quais nos preocupamos acaba de forma positiva ou neutra. A Psicologia usa o termo 'ruminação' para referir-se a uma cadeira de pensamentos repetitivos, de caráter negativo, que se vai perpetuando ao longo do tempo. O termo poderá parecer bizarro já que o ato de 'ruminar' é uma característica de certos mamíferos como a vaca, que ingere os alimentos, regurgita-os para a boca e torna a mastigá-los. Apesar da ruminação estar presente em todas as pessoas em certo grau, nem toda ruminação é igualmente disfuncional.

 

A literatura aponta evidências de que a ruminação é prejudicial quando associada a tendências disfóricas (mau humor, tristeza e desmotivação) e/ou associada a traços de personalidade presentes no fator neuroticismo, ou seja, ao nível do desajustamento emocional e da vulnerabilidade para desenvolver stress e ansiedade, depressão, sentimentos de culpa, baixa autoestima, tensão, irracionalidade, timidez, tristeza e emotividade.

 

É possível evitar a ruminação disfuncional através da contestação dos pensamentos ruminantes, avaliando a sua validade, e desenvolvendo pensamentos alternativos. Só o facto de se perceber que ruminar reforça o problema emocional poderá já gerar na pessoa uma perspectiva diferente sobre este hábito nocivo.

 

Saiba mais consultando os nossos serviços.

 

Com estima,

Carlos Marinho

Comentários

Mensagens populares deste blogue

TUDO SOBRE FERIDAS EMOCIONAIS DE INFÂNCIA

FERIDAS EMOCIONAIS DA INFÂNCIA: O QUE SÃO E COMO NOS IMPACTAM?  A Patrícia está sempre a comparar-se aos outros. Acha-se inútil e desinteressante. Tem pouca autoconfiança e uma muito baixa autoestima, desde adolescente. Vive refém do medo de ser abandonada, apega-se em demasia aos amigos e, principalmente, ao seu parceiro. A experiência de ciúmes é constante. Assume que qualquer outra mulher é muito mais bonita e mais cativante do que ela. Não descansa enquanto não souber o que o seu parceiro faz, controla-lhe o telemóvel, persegue-lhe as colegas de trabalho, e acompanha-o em todos os movimentos. " Faço isso para que ele não me troque por outra pessoa " justifica. Ansiedade, angústia, medo e desconfiança tomam conta da sua vida há muito tempo. Mas estas emoções são apenas a ponta do iceberg, e o sintoma de um problema maior, oculto abaixo da linha de água - ali, onde em terapia encontramos as suas  feridas emocionais . [Quando cais e te magoas, podes imediatamente ver a ferid...

O DESAFIO DA (RE)CONEXÃO COM O 'SELF' [MANUAL DE BOLSO - Versão 2025]

... VAZIO? DESÂNIMO? SOLIDÃO? FALTA DE FOCO? ANGÚSTIA? ... ´ Muitas destas queixas são queixas típicas do estado de  crise da subjetividade pessoal. E o que quer isto dizer? Bem, comumente, este estado de crise decorre da falta de investimento na nossa " vida interior " . Quando esta falta de investimento leva ao afastamento e eventual  desconexão com o nosso 'Self' , debilitando-o, é gerado intenso mal-estar. Neste caso, a solução está na libertação do 'Eu reprimido' , ou seja, no processo de individuação   e  emancipação pessoal . Por outro lado, pessoas que estão nos estágios iniciais do processo de emancipação pessoal , e que percebem quão isoladas estão em relação à maioria, poderão também experimentar mal-estar sob a forma destas queixas: acontece que o que faz mover o mundo não as faz mover mais. Aos perceberem de forma mais lúcida a crise da subjetividade atual, sentem-se alienadas da cultura ao seu redor. Neste caso, a solução está na resistência às...

ENTENDER PARA SUPERAR: OS DESAFIOS DO NARCISISMO PATOLÓGICO

SOMOS TODOS/AS NARCISISTAS? Sim!  Comecemos por dizer que o que caracteriza o narcisismo é o  investimento da libido na nossa própria imagem .  Todos/as nós possuímos uma energia vital que pode ser investida tanto nos outros, como na nossa própria imagem - a essa 'energia' chamamos de " libido ". Com efeito, é impossível que pelo menos uma parcela da nossa energia vital não seja investida na nossa própria imagem , por isso dizemos que o narcisismo é uma condição básica da estrutura da subjetividade humana ,  transversal a todos os seres humanos .  Para entendermos as "complicações narcísicas" que podem afetar o nosso comportamento, nomeadamente o que consideramos " narcisismo patológico (ou perverso) ", devemos começar pelo início da vida, e entender a formação do narcisismo desde a sua raiz ...  A VIDA COMEÇA NO PARAÍSO (ou SOBRE O NARCISISMO PRIMÁRIO ): No início da vida, o bebé não percebe ainda a realidade externa , não está ainda capaz de re...