Embora a imaturidade não seja monopólio exclusivo dos homens, este é um fenómeno que se observa cada vez mais na sociedade atual. No número dos motivos que levam à IMATURIDADE MASCULINA, contam-se TRAUMAS DE INFÂNCIA, BAIXA AUTOESTIMA, PROBLEMAS EMOCIONAIS, além da PRESSÃO para terem uma vida financeira estável fora da casa dos pais.
Muitos filhos com idade adulta, mesmo possuindo renda mensal que lhes permita viver de forma independente, PREFEREM RESIDIR COM A FAMÍLIA DE ORIGEM. E as razões para essa escolha perpassam por elementos psicológicos: nomeadamente, a DEPENDÊNCIA EM RELAÇÃO ÀS FIGURAS PARENTAIS – talvez uma dependência de gratificações orais infantis proporcionadas pela figura materna.
Muitas vezes, esse filho CRIA OBJEÇÕES À RELAÇÃO, temendo que a namorada não se revele uma tão boa mãe cuidadora como a sua própria. Ainda que exista uma certa consciencialização quanto à responsabilidade de dar o próximo passo rumo a uma vida autónoma adulta, é percebida uma passividade peculiar nestes homens.
Têm o direito de lutar pela sua emancipação; fazê-lo, porém, é visto como uma ABNEGAÇÃO EM DETRIMENTO DE LAÇOS FORTEMENTE PSICOLÓGICOS E AFETIVOS DE DEPENDÊNCIA. Estes laços tendem a esconder inseguranças, necessidade de autoafirmação, e narcisismo particularmente percebido no MEDO DE NÃO ENCONTRAR NO MUNDO EXTERNO À FAMÍLIA A VALORIZAÇÃO E O INVESTIMENTO QUE OS PAIS REALIZAM.
Por seu turno, a PATERNIDADE TARDIA, o que em média retardou a geração de filhos para meados dos 30 anos, parece isentá-los da responsabilidade de transferência de valores para alguém aos seus cuidados. Outros fatores são também levados em consideração, como o MEDO DA SOLIDÃO e o MEDO DOS DESAFIOS INERENTES AO MUNDO ADULTO.
Um dos principais problemas da imaturidade é percebida no distúrbio da vida afetiva. "A pessoa imatura" – escreve Enrique Rojas – "IDEALIZA A VIDA AFETIVA e exalta o amor conjugal como algo extraordinário e maravilhoso. Isto constitui um erro, porque não aprofunda na análise. O amor é uma tarefa esforçada de melhora pessoal durante a qual se burilam os defeitos próprios e os que afetam o outro cônjuge […]. A pessoa imatura CONVERTE O OUTRO NUM ABSOLUTO. Isto costuma pagar-se caro. É natural que ao longo do namoro exista um deslumbramento que impede de reparar na realidade, fenómeno que Ortega y Gasset designou por “doença da atenção”, mas também é verdade que o difícil convívio diário coloca cada qual no seu lugar; a verdade aflora sem máscaras, e, à medida que se desenvolve a vida ordinária, vai aparecendo a imagem real”.
No imaturo, o amor fica “cristalizado”, como diz Stendhal, nessa FASE DE DESLUMBRAMENTO, e não aprofunda na “versão real” que o convívio conjugal vai desvendando. Quando o amor é profundo, as divergências que se descobrem ACABAM POR SUPERAR-SE; quando é superficial, por ser imaturo, provocam CONFLITOS E FREQUENTEMENTE RUTURAS.
A pessoa afetivamente imatura desconhece que os sentimentos não são estáticos, mas dinâmicos. São suscetíveis de melhora e devem ser cultivados no viver quotidiano. São como plantas delicadas que precisam ser regadas diariamente. “O AMOR INTELIGENTE EXIGE O CUIDADO DOS DETALHES PEQUENOS E UMA ALTA PERCENTAGEM DE ARTESANATO PSICOLÓGICO” (E. Rojas).
A pessoa consciente, madura, sabe que o amor se constrói dia após dia, lutando por corrigir defeitos, contornar dificuldades, evitar atritos e manifestar sempre afeição e carinho.
Os imaturos querem ANTES RECEBER DO QUE DAR. Quem é imaturo quer que todos sejam como uma peça integrante da máquina da sua felicidade. Ama somente para que os outros o realizem. Amar para ele é uma forma de satisfazer uma necessidade afetiva, sexual, ou uma forma de autoafirmação. O amor acaba por tornar-se uma espécie de “grude” que prende os outros ao próprio “eu” para completá-lo ou engrandecê-lo.
Mas esse amor, que não deixa de ser uma FORMA TRANSFERIDA DE EGOÍSMO, desemboca na frustração. Procura cada vez mais atrair os outros para si e os outros vão progressivamente afastando-se dele. ACABA ABANDONADO POR TODOS, porque ninguém quer submeter-se ao seu pegajoso egocentrismo; NINGUÉM QUER SER APENAS UM INSTRUMENTO DA FELICIDADE ALHEIA.
Os sentimentos são caminho de ida e volta; deve haver reciprocidade. A pessoa imatura acaba sempre a QUEIXAR-SE DA SOLIDÃO QUE ELA MESMA PROVOCOU POR FALTA DE ESPÍRITO DE RENÚNCIA. A nossa sociedade esqueceu quase tudo sobre o que é o amor. Não há felicidade se não há amor e NÃO HÁ AMOR SEM RENÚNCIA. Um segmento essencial da afetividade está tecido de sacrifício. Algo que não está na moda, que não é popular, mas que acaba por ser fundamental.
O imaturo pretende introduzir o Outro no seu projeto pessoal de vida, em vez de tentar contribuir com o Outro num PROJETO CONSTRUÍDO EM COMUM. A felicidade do cônjuge, da família e dos filhos: esse é o projeto comum do verdadeiro amor. As pessoas imaturas não compreendem que a dedicação aos filhos constitui um fator importante para a estabilidade afetiva dos pais. Também não assimilaram a ideia de que, para se realizarem a si mesmos, têm de se empenhar na realização do cônjuge. QUEM NÃO É SOLIDÁRIO TERMINA SOLITÁRIO.
Com estima,
Carlos Marinho
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