A literatura identifica QUATRO MECANISMOS DISFUNCIONAIS, lesivos e ineficazes para solucionar ou aceitar a situação vivida – denominados os “Quatro Cavaleiros Preditores da Separação” ou os “Quatro Cavaleiros do Apocalipse Conjugal”. São os que se seguem:
1. CRÍTICA: A crítica é uma maneira desrespeitadora de expressar um desacordo ou uma queixa por algo que a outra pessoa fez, mas no formato de um JUÍZO DE VALOR a seu respeito – ou seja, aquilo que seria uma mera opinião sobre os seus comportamentos/atitudes, transforma-se num juízo de valor que o/a DESQUALIFICA E ATACA, sem respeito pela sua individualidade (confundem-se os termos de “se ages assim, tu és assim – e como não gosto do que fazes, não gosto de ti”).
QUE FAZER? | É da nossa responsabilidade relacional ensinarmo-nos uns aos outros sobre como queremos e precisamos de ser tratados/as – não só não há problema como, na verdade, não nos podemos dar ao luxo, de não COMUNICAR SOBRE ALGO QUE NOS DESAGRADA na relação, ou sobre necessidades e desejos que poderão não estar a ser (devidamente) satisfeitos. E é possível fazê-lo sem críticas – através do “SOFT-START UP”, uma prática da comunicação não-violenta. Um dos seus recursos é usar afirmações começadas por “eu” (evitando o ‘apontar de dedo’ acusatório ao outro). Um exemplo:
Em vez de dizer: “Tu já não me dás atenção nenhuma”, poderá dizer: “Eu sinto falta da tua atenção”.
Ou…
Em vez de dizer: “Só falas de ti”, poderá dizer: “Eu sinto-me algo ignorado/a. Gostava de falar sobre como foi o meu dia: parece-te bem?”.
NOTA: Ajuda expressar semelhantes sentimentos e pensamentos À MEDIDA QUE SURGIREM, por oposição a reprimi-los e acumulá-los, até que o ressentimento venha à tona.
2. DESPREZO: Manifesta-se em atitudes agressivas e de falta de respeito, que são diretamente expressas ao outro, como INSULTOS, AMEAÇAS, OFENSAS, PIADAS, SARCASMO, e HUMILHAÇÕES, que implicam uma atitude de superioridade por parte de quem despreza. A pessoa desprezada sente-se DIMINUÍDA E ANULADA. É o mais forte dos presságios de fracasso de uma relação e, geralmente, alimenta-se de pensamentos negativos guardados há muito, a respeito do(s) companheiro(s)/companheira(s).
QUE FAZER? | Recomenda-se a construção de UMA CULTURA DA APRECIAÇÃO MÚTUA (o que, claro, não acontece de um momento para o outro), assente na capacidade de pensar de forma positiva sobre o/a seu/sua parceiro/parceira, de ACREDITAR QUE O OUTRO É DIGNO DE CARINHO E DE ADMIRAÇÃO (ajuda lembrar as primeiras impressões com bons sentimentos), concentrando-se nas suas características positivas, demonstrando estima e afeto por isso. Para cada interação negativa sugere-se, pelo menos, 5 interações positivas.
A ‘cultura da apreciação mútua’ não depende apenas de elogios. Perceber alguns esforços diários do/a parceiro/a para facilitar ou melhorar a vida de ambos/as – mesmo que sejam coisas “pequenas” (como acordar mais cedo para nos fazer café) – é de extrema importância.
3. DEFENSIVIDADE: Refere-se à atitude defensiva que incorremos quando nos percebemos na mira de um ataque – ou seja, quando consideramos que a culpa pelo início das tensões é do outro (“O PROBLEMA NÃO É MEU – É TEU”). Protegemos os nossos sentimentos, fechando-nos em nós próprios/as, nada fica resolvido, e a fratura vai aumentando. Esta postura tende a desresponsabilizar a pessoa da sua quota parte no conflito/dificuldade, dificultando a mudança necessária para solucioná-la. MUITAS VEZES ENVOLVE UM ATAQUE, que pode surgir sob forma de censuras, ameaças, e juízos de valor, e ficamos mais concentrados em “atacar por defesa” do que em assumir a responsabilidade e a procura de soluções.
QUE FAZER? | A batalha é aqui CONTRA O ORGULHO, O MEDO E O DESEJO EGÓICO de estarmos sempre certos/as, sempre em controlo, sempre em posição de dominância (e quem, senão alguém inseguro/a, precisa de estar sempre tão no controlo?). ACEITAR A PRÓPRIA VULNERABILIDADE não é tarefa fácil, mas é concretizável: implica consciência, humildação, disciplina e a boa vontade de ir ao encontro do Outro, na expectativa (legítima) de que este seja um movimento recíproco. O amor começa aqui: na capacidade de sairmos de nós próprios/as, da nossa própria dor, para nos ocuparmos do Outro, e vice-versa – “EU CUIDO DE TI, TU CUIDAS DE MIM”. A comunicação implica um diálogo – o diálogo implica a escuta atenta do outro, e não uma mera defesa da nossa posição. O que se quer é uma conexão profunda e autêntica, além-muralhas. O esforço compensa quando nos sentimos amparados/as na nossa própria vulnerabilidade. Assumir certas responsabilidades é consequência natural. Um dos maiores prazeres da maturidade emocional é saber FAZER TRIUNFAR O AMOR SOBRE O EGO.
4. INDIFERENÇA/STONEWALLING: Trata-se de MOSTRAR INDIFERENÇA PARA EVITAR O CONFLITO. Distanciamo-nos e desconectamo-nos dos argumentos do outro, e da própria pessoa, como se a questão nos não estivesse relacionada. Geralmente, evitamos o conflito por estarmos já sobrecarregados/as emocionalmente. É uma estratégia negativa porque, novamente, nos afasta da solução (se não assumirmos o problema, nada será resolvido). Pode implicar atitudes de silêncio (‘SILENT TREATMENT’), uma EXPRESSÃO CORPORAL PASSIVA, INEXPRESSÃO, EVASÃO, dizer-se (sempre) OCUPADO/A, incorrer COMPORTAMENTOS OBSESSIVOS, e dar respostas repassadas de LACUNAS. Quando desta forma nos retiramos do conflito, deixamos o/a(s) nosso/a(s) parceiro/a(s) sozinho/a(s) na conversa, o que é porta aberta para grande frustração e ressentimento.
QUE FAZER? | Shakespeare falava dos soldados que desertavam da batalha, para voltarem no dia seguinte mais fortes. O truque também aqui se aplica: se algo nos fragilizar emocionalmente, ou provocar outra forma de reatividade emocional negativa, AFASTARMO-NOS PARA PROCURAR ALGUMA ACALMIA poderá ser a melhor política possível. Só precisamos de garantir duas coisas: primeiro, de que avisamos o/a(s) nosso/a(s) parceiro/a(s) de que precisamos desse tempo, e TRANQUILIZÁ-LO/A(S) DE QUE VOLTAREMOS; segundo, de que, durante o tempo desse intervalo, procuramos acalmar-nos e NÃO RUMINAR SOBRE O DESENTENDIMENTO. A auto-comiseração não ajudará: é uma chamada à ação, uma chamada à resolução – então, aja.
Embora estes ‘antídotos’ possam parecer simples, colocá-los em prática requer COMPROMISSO, PACIÊNCIA e a única coisa que a terapia de casal não pode trabalhar – AMOR.
O que está por trás de uma relação forte e duradoura é a AMIZADE. Uma amizade que se baseia em AMBOS OS/AS PARCEIROS/AS SE SENTIREM ACEITES E ESTIMADOS/AS UM/A PELO/A OUTRO/A.
Quanto mais emocionalmente inteligentes forem os casais, maior é a probabilidade de se compreenderem, se respeitarem mutuamente e respeitarem a sua união, e assim são mais prováveis de serem felizes na sua relação.
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