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#9: "IDENTIFICAÇÃO PROJETIVA" | CONHECER UM MECANISMO DE DEFESA POR DIA... NÃO SABE O BEM QUE LHE FAZIA!


Identificação Projetiva

É um mecanismo descrito por Melanie Klein e faz parte da posição esquizo-paranóide. É um conceito fundamental para a teoria e clínica, e foi o instrumento teórico com que os kleinianos abordaram a análise dos pacientes psicóticos e limítrofes.

Para Klein a mente tem a capacidade omnipotente de se libertar de uma parte do Self, colocando-a num outro objeto; o resultado é uma confusão da identidade, uma perda da diferença real entre sujeito e objeto. (Bleichmar & Bleichmar, 1992).

Através deste mecanismo, a pessoa expulsa uma parte de si mesma, identificando-se com o 'não projetado'; e ao objeto são atribuídos os aspectos projetados, dos quais o sujeito se desprendeu, o que constituiria para Klein uma das bases principais dos processos de confusão.

Esse mecanismo é produzido por uma motivação pessoal que procura libertar-se de certas partes de si mesmo (para Klein, os processos de desenvolvimento obedecem sempre a uma intenção inconsciente do sujeito). O bebé pode precisar, para aliviar a sua angústia, de desprender-se de aspectos dolorosos do seu próprio self, usando a identificação projetiva, colocando-os na mãe; contudo, por arrasto, esta mãe adquirirá um aspecto persecutório.

Na clínica, quando a identificação projetiva é muito intensa o paciente percebe o terapeuta a partir das suas próprias projeções e da sua subjetividade. Este mecanismo permite desprender-se tanto dos aspectos maus, como dos bons. O individuo pode situar os aspectos bons fora do self para preservá-los dos aspectos maus internos.

Uma das consequências da identificação projetiva excessiva é que o ego se debilita, ficando submetido a uma dependência extrema das pessoas nas quais se projetam os aspectos bons, para voltar a recebê-los delas; ou aspectos maus, para controlá-los e assim poder proteger-se da ameaça da introjeção.

Para Klein, o equilíbrio entre os processos de identificação projetiva e introjetiva são estruturantes para o mundo externo e interno de cada pessoa. A identificação projetiva constitui-se como um fenómeno normal, base da empatia e da possibilidade de comunicação entre as pessoas. É a intensidade e qualidade que determina se o mecanismo é patológico ou normal.

Bleichmar e Bleichmar (1992) relatam que a identificação projetiva é a base de muitas situações patológicas. Se o sujeito tem a fantasia de se inserir violentamente no objeto e controlá-lo, sofrerá um temor pela reintrojeção violenta, tanto física como mentalmente. Isto provoca dificuldades na reintrojeção, que levam a alterações no ego e no desenvolvimento sexual; pode levar o indivíduo a isolar-se no seu mundo interior, refugiando-se num objeto interno idealizado.

Conheça o próximo, segunda-feira...



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